Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Camponesas em marcha por Brasília lamentam que presidenta Dilma Rousseff não tenha assumido compromisso com autalização dos índices de produtividade no setor rural. Mas ficaram satisfeitas com respostas concretas dadas por Dilma a mais de 150 reivindicações. Negociações com governo vão continuar, prometeu presidenta.

Bárbara Lopes - Especial para a Carta Maior

BRASÍLIA - Os anúncios feitos pela presidenta Dilma Rousseff no encerramento da Marcha das Margaridas, nesta quarta-feira (17/08), foram festejados pelas manifestantes. Mas elas consideram que as reivindicações mais importantes foram ignoradas: a atualização dos índices de produtividade para fins de reforma agrária e o crédito rural para mulheres tendo o governo federal como avalista.

No discurso, a presidenta disse ter determinado à equipe que faça um diagnóstico sobre todos os assentamentos existentes no país, para que seja possível decidir o que fazer em termos de reforma agrária. Mas nada além disso.

Havia entre as camponesas organizadas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) grande expectativa quanto às respostas do governo, já que, pela primeira vez na história brasileira, a Presidência da República é ocupada por uma mulher – uma “margarida”, como a própria Dilma se definiu.

A pauta da mobilização continha mais de 150 itens, os quais tratavam de saúde, educação, reforma agrária, agroecologia e enfrentamento da violência contra a mulher. Ministros do governo haviam recebido o documento um mês antes.

O otimismo em relação à resposta do governo era alimentado pela presença de Dilma na cerimônia de encerramento da manifestação, a quarta da história das margaridas. As lideranças faziam questão de frisar que a presidenta, "uma mulher de luta", seria sensível às demandas das trabalhadoras rurais.

Além disso, durante a cerimônia de abertura na véspera, a ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes, disse que alguns dos itens acordados para serem cumpridos ao longo dos quatro anos de mandato poderiam ser antecipados por Dilma.

A ansiedade das camponesas que esperavam pela presidenta aumentou com o atraso da cerimônia. Marcada para as 15h da quarta-feira, começou apenas às 17h, horário em que estava prevista a saída de várias delegações. Tanto que ao longo da espera, alguns manifestantes cantavam: "Dilma, cadê você? Eu vou embora sem ver você".

Muitas margaridas estavam exaustas depois de um dia inteiro de caminhada até o Congresso Nacional, onde um grande ato foi realizado.

Quando Dilma chegou, muitas trabalhadoras começavam a deixar a Cidade das Margaridas rumo aos ônibus que os levariam de volta a seus Estados. O fim do discurso presidencial foi visto por um plenário mais esvaziado.

Quem ficou até o fim, comemorou quando Dilma listou algumas das reinvindicações atendidas. Elas souebram que o governo vai reforçar a escrituração conjunta de terrenos, tanto derivados de assentamento de reforma agrária quanto de propriedades adquiridas com crédito fundiário.

A documentação das mulheres rurais - um ponto sensível, já que muitas têm acesso a benefícios previdenciários - também foi contemplada, com a criação de centros na Amazônia.

Quando Dilma falou nas políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, causou agitação entre as manifestantes. A questão mexe com os ânimos das organizações de mulheres e estava entre as prioridades da pauta da Marcha das Margaridas. Mas o anúncio de Dilma foi considerado tímido: apenas 10 unidades para atendimento de mulheres vítimas de violência.

Alguns manifestantes também criticaram a ausência de posicionamento, no discurso da presidenta, sobre a questão dos agrotóxicos. A única menção foi à realização de um estudo sobre efeitos desses produtos na saúde humana. Mas nada sobre regulação de seu uso, nem sobre a reformulação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio).

O que não possível contemplar agora, Dilma disse que continuará sendo negociado até o próximo do governo com as margaridas, em outubro.

 

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