Mais de 500 mulheres, vindas de 14 estados brasileiros, chegaram com muita alegria e disposição para um encontro histórico organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o 1º Encontro Nacional das Mulheres. Com o lema “Mulheres em luta por direitos e pela construção de um novo projeto energético popular”, o Encontro começou na segunda-feira, dia 04, no Parque da Cidade, em Brasília.
As mulheres são militantes do MAB, atuam na luta contra as barragens e pelos direitos das atingidas e dos atingidos e, movidas pelo desejo de maior participação, inserem-se na organização das famílias para melhoria das condições de vida e de trabalho dos atingidos.Durante o Encontro, que segue até o próximo dia 7, as participantes poderão discutir sobre o atual modelo energético e analisar as conseqüências da construção das barragens em suas vidas. Outro objetivo do Encontro é denunciar a violação dos direitos humanos das mulheres atingidas no processo de construção de barragens.
Segundo Ivanei Dalla Costa, da coordenação nacional do Movimento, este é o momento de fortalecer a participação das mulheres para que sejam sujeitas da organização e da luta. “Ainda hoje existe muita diferença na atuação de mulheres e homens, os direitos não são os mesmos e elas precisam estar esclarecidas sobre o seu papel na sociedade e no movimento social. Queremos participar e juntos, homens e mulheres, construir um novo projeto energético popular”, declarou.
Ativistas do movimento internacional da luta contra as represas também participam do encontro brasileiro. Representantes do movimento mexicano e da Patagônia Argentina estarão relatando as experiências de luta em seus países, e a vice ministra de Minas e Energia do Paraguai, Mercedes Canese, abordará aspectos da integração energética latino americana e da relação entre o Paraguai e o Brasil.
Moira Millan, militante indígena da luta contra barragens na Patagônia, disse que, com a participação no encontro, busca fortalecer a articulação internacional, intercambiar experiências com outros povos e fortalecer o espírito de luta com a resistência das brasileiras. “Levarei muitas experiências de organização para o meu povo”, afirmou.
Violação dos Direitos Humanos e 20 anos do MAB
Durante o encontro, as mulheres recepcionarão a ministra de Estado, Maria do Rosário, para o lançamento do Relatório da Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. O relatório apontou 16 direitos humanos sistematicamente violados em construção de barragens. Na oportunidade, o MAB vai entregar à ministra um dossiê que aponta violação dos direitos humanos das mulheres atingidas.
Junto à entrega do dossiê, o Movimento solicitará que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana crie uma Comissão Especial para investigar a violação dos direitos das mulheres na construção de barragens, assim como fez em 2006, quando criou a comissão Especial “Atingidos por Barragens”.”
O encontro das mulheres do MAB também marca a comemoração dos 20 de organização nacional do MAB. O ato de comemoração acontece na noite do dia 5 e, entre as atividades, serão homenageadas pessoas que marcaram a história do movimento. “É uma vitória política da população atingida pelas construções de hidrelétricas do país, manter de pé, contra interesses tão poderosos, um Movimento de defesa que atua em todo Brasil”, declarou Ivanei.
No último dia do encontro, dia 7, as mulheres participarão de uma marcha pela Esplanada dos Ministérios para cobrar do Governo Federal mudanças na política energética e, junto com outros movimento sociais e organizações da Via Campesina, farão o lançamento da Campanha Nacional Contra o Uso de Agrotóxicos.
Fonte: Alexania Rossato, de Brasília (DF) para o Brasil de Fato.