"Conquistar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres na agricultura não só é justo; também é crucial para o desenvolvimento agrícola e a segurança alimentar”. É assim que Jacques Diouf, diretor geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, por sua sigla em inglês), encerra o prólogo da edição 2010-2011 do relatório "O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação”. O informe, que destaca a diferença de gênero na agricultura, foi lançado na última segunda-feira (7), no marco das celebrações do Dia Internacional da Mulher, em Santiago de Chile.
Com o título "As Mulheres na Agricultura: Fechar a diferença de gênero em favor do desenvolvimento”, a análise revela que as mulheres podem contribuir significativamente para a diminuição da fome no mundo caso tenham mais acesso à terra, às tecnologias, aos serviços financeiros e à educação. Isso porque ainda é evidente a desigualdade entre homens e mulheres no âmbito agrícola.
De acordo com o relatório, as mulheres, apesar de representar aproximadamente 43% da força de trabalho agrícola nos países em desenvolvimento, produzem menos que os homens. Não por falta de capacidade, mas pela dificuldade de acesso a informações e produtos agrícolas.
Segundo o informe, em comparação com os homens, as mulheres administram propriedades menores, criam menos gado, têm menos acesso a equipamentos e produtos agrícolas, recebem menos tempo de educação, utilizam menos serviços financeiros, recebem salários mais baixos e têm uma quantidade de carga de trabalho global maior.
"As mulheres na agricultura e nas áreas rurais têm um menor acesso aos recursos produtivos e menos oportunidades que os homens. A diferença de gênero abarca muitos ativos, insumos e serviços e supõem um custo para o setor agrícola, para a economia em geral e para a sociedade, assim como para as próprias mulheres”, destaca FAO em folha de informação do relatório.
A partir desse quadro, o informe aponta que o fim da diferença de gênero pode, sim, contribuir para a diminuição da fome no mundo. De acordo com ele, se as mulheres tivessem o mesmo acesso aos recursos agrícolas que os homens, o rendimento delas aumentaria entre 20% e 30%, o que significaria um crescimento de 2,5% a 4% na produção agrícola total dos países em desenvolvimento.
"Um aumento da produção deste calibre permitiria reduzir o número de pessoas famintas no mundo entre 12% e 17%”, estima. Os benefícios de aumentar a produção agrícola das mulheres não se resumem à diminuição da fome, mas também ao crescimento econômico e humano, já que, segundo o estudo, elas investem mais em alimentação, saúde, vestuário e educação para os filhos.
Assim, o relatório considera importante a promoção de políticas e ações que diminuam a diferença de gênero no âmbito agrícola, como: a eliminação da discriminação da mulher aos recursos agrícolas, à educação, ao trabalho e aos créditos e serviços financeiros; o investimento em tecnologias e infraestruturas que melhorem a produção das mulheres; e o aumento da participação feminina nos mercados de trabalho rurais justos.
O relatório completo está disponível em: http://www.fao.org/docrep/013/i2050s/i2050s.pdf