Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

\"\"A agropecuária brasileira permanece marcada pela desigualdade e com um nível de concentração de terras cada vez mais grave, como mostra o Censo Agropecuário 2006, divulgado ontem pelo IBGE. A pesquisa, a mais completa do setor no País, revela aumento da desproporção da estrutura agrária nos últimos 10 anos. O índice de Gini – medida internacional de desigualdade – no meio rural chegou a 0,872, superando o registrado em 1985 (0,857) e 1995 (0,856). Pela tabela de Gini, que vai de zero a um, quanto mais próximo de um, maior a desigualdade.

Como comparação, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), também do IBGE, divulgada há três semanas, mostrou o índice de 0,521 para o rendimento total do trabalho em 2008.

O Gini brasileiro, um dos mais altos do mundo, vem recuando nos últimos anos. Mas a pesquisa revela que a desigualdade é ainda maior no campo. “As diferenças na área dos estabelecimentos agropecuários continuam a caracterizar a manutenção da desigualdade na distribuição de terra no País nos últimos censos”, conclui o estudo.

Segundo o IBGE, enquanto as propriedades de menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área agrícola, a área dos estabelecimentos de mais de mil hectares concentram mais de 43%. O Censo, referente a 2006, retrata as mudanças ocorridas no setor na última década, já que o levantamento anterior refere-se a 1996. A concentração de terras permanece praticamente inalterada há mais de 20 anos.

O técnico do IBGE responsável pelo Censo, Antônio Carlos Florido, disse que os dados de Gini devem ser analisados com cautela, já que nem sempre a concentração reflete uma situação desfavorável para os produtores. Ele ressaltou que, apesar da manutenção das desigualdades na média do País, a concentração diminuiu em quase 50% dos municípios.

Ainda segundo o Censo, mais de um terço dos 16,5 milhões de agricultores brasileiros são analfabetos ou não têm estudo. O estudo revela que 39% dos produtores agropecuários não sabem ler e escrever ou o fazem precariamente, sem estudo formal. Se forem acrescentados a esse grupo os produtores que têm ensino fundamental incompleto, que correspondem a 43%, o Censo indica que 80% dos agricultores, cerca de 13,2 milhões de pessoas, têm pouco ou nenhum acesso à educação. Apenas 3% têm ensino superior.

Foi a primeira vez que o Censo mediu a escolaridade dos produtores. Para o secretário-executivo e ministro interino do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Daniel Maia, esse é um dos dados preocupantes. O Nordeste concentra 58% dos analfabetos.

 

Jornal do Commercio

01 de outubro de 2009

 

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