Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A guerra pela atualização dos índices de produtividade dos campos brasileiros recomeçou em Brasília. Concluída pelos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (MDA), a proposta deve ser apresentada ainda nesta semana no Conselho Nacional de Política Agrícola. A bancada ruralista, no entanto, ameaça paralisar os trabalhos na Câmara dos Deputados se o governo federal não desistir da revisão dos números.


A reportagem é de Carolina Bahia e publicada pelo jornal Zero Hora, 01-12-2008.

Esses índices servem como padrão para o processo de desapropriação de terras para reforma agrária. Os dados utilizados atualmente ainda são da década de 70, o que, segundo análise do MDA, dificulta o trabalho do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Como os índices atuais são considerados defasados diante do alto rendimento alcançado pelas propriedades rurais, dificilmente o governo consegue enquadrar uma área como improdutiva.

Há três anos, foi feito um primeiro estudo, mas a pressão da bancada ruralista prevaleceu e o assunto foi engavetado. Com o segundo estudo, a polêmica está de volta.

Conforme cálculo do governo, o primeiro, se entrasse em vigor, poderia render cerca de 33 mil hectares em desapropriações no Estado – equivalente a mil vezes a área do Parque da Redenção, em Porto Alegre. No segundo estudo, não houve autorização para se fazer tal projeção, para evitar pressões.

O ministro do MDA, Guilherme Cassel, considera a nova proposta conservadora. Nas negociações com o Ministério da Agricultura ficou acertado que o ajuste de cada índice não poderia chegar ao dobro dos valores atuais. No novo mapa, as áreas rurais de todo o país foram divididas em microrregiões, de tal forma que a produtividade varia de acordo com as características da região e do tipo de produção (confira exemplos do Estado no quadro).

– E ainda será levado em consideração se a região enfrentou algum problema climático, como o caso de Santa Catarina. Por mim, assinava as novas regras imediatamente – afirma Cassel.

Além de ser apresentado ao Conselho Nacional de Política Agrícola, a mudança dos índices precisa ser oficializada por meio de uma portaria assinada por Cassel e pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Se aprovadas, as mudanças passariam a valer a partir da safra 2009/2010.

Líderes da bancada ruralista na Câmara, no entanto, nem mesmo querem conhecer a proposta. Parlamentares argumentam que o governo não pode exigir ampliação nos níveis de produtividade durante a crise econômica. A previsão para a safra 2008/2009 é de manutenção ou queda de até 2% na colheita.

– O que eles querem é desapropriar terra. Não é hora de se falar neste assunto. No Rio Grande do Sul tem cooperativa quebrando e produtor sem dinheiro para pagar adubo – reclama o deputado Luis Carlos Heinze (PP).

A pressão dos deputados foi tanta que a reunião do conselho marcada para hoje foi adiada. Cassel e Stephanes devem combinar uma nova data.

 

 

Índice de produtividade em discussão. \'É uma determinação do presidente Lula\'

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À frente do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o gaúcho Guilherme Cassel tenta pela segunda vez emplacar a atualização nos índices de produtividade das lavouras brasileiras. Há cerca de três anos, um primeiro estudo foi concluído e encaminhado ao Palácio do Planalto. O esforço, no entanto, foi em vão.

Por pressão da bancada ruralista na Câmara, o projeto foi engavetado. Agora, após mais uma rodada de negociações com o Ministério da Agricultura, uma nova proposta está em discussão. Dessa vez, Cassel acredita que é para valer.

Guilherme Cassel concedeu uma entrevista ao jornal Zero Hora, 01-12-2008.

Eis a entrevista.

É a segunda vez que o senhor tenta revisar os índices de produtividade. Desta vez o assunto vai avançar?

Sim. É uma determinação do presidente Lula. Há três meses nos reunimos e ele determinou que os ministérios (do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura) chegassem a um acordo técnico. Há 30 dias, conseguimos fechar esse acordo.

Por que, então, o estudo ainda não foi divulgado?

O ministro Reinhold Stephanes cumpriu a promessa e convocou a reunião do Conselho Nacional de Política Agrícola para 1º de dezembro (hoje). Mas houve uma pressão medonha de alguns deputados e a reunião foi suspensa. A minha intenção é que o conselho seja convocado ainda nesta semana.

Os ruralistas argumentam que o momento de crise econômica não é adequado para revisão de rendimento no campo. O senhor considera o momento propício?

Mas quando o momento é adequado? Os cálculos foram refeitos, os números são conservadores e houve acordo com o Ministério da Agricultura.

Essa é uma reivindicação constante dos movimentos sociais. O objetivo dos novos índices é aumentar o número de terras disponíveis para reforma agrária?

Não, o objetivo não é esse. Reajustar esses índices, que estão defasados, é uma obrigação do governo.

 

 

 

 

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