Nota da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) à Imprensa e a Sociedade Brasileira
14 bóias-frias mortos pelo capitalismo e seus comparsas -
Tragédia do Modelo de “Desenvolvimento” do Campo Brasileiro
Nós da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) manifestamos nossa indignação e exigimos justiça em vista da tragédia que resultou na morte de 14 bóias-frias e 18 feridos que trabalhavam na lavoura do café na fazenda Vargem Grande, dia 19 de agosto de 2008 na cidade de Santo Antonio do Amparo (centro- oeste do estado de Minas Gerias) no trecho da rodovia Fernão Dias, quando um caminhão que transportava 32 bóias-frias tombou. Vemos que em pleno inicio do século XXI, no ano de 2008, ainda temos de assistir atônicos ao descaso do Estado e dos donos das empresas com a vida e a dignidade humanas.
A conseqüência de tudo isso advém de um modelo de desenvolvido para o campo brasileiro que privilegia:
1 - A exportação de comodities, que garantem superávit na balança comercial, em detrimento de uma política pública de abastecimento interno, adequada para a produção de alimentos saudáveis e de baixo custo para a maioria da população brasileira.
2 - A liberação do plantio dos transgênicos que, em nome do progresso da ciência, gera o aumento da concentração de poder e dos lucros em detrimento da saúde humana.
3 - A concentração da terra para a expansão da monocultura do eucalipto, da cana de açúcar e da exploração do minérios e dos recursos naturais. A biodiversidade (cada vez mais sobre controle das grades empresas transnacionais) é ameaçada em detrimento da realização de uma reforma agrária massiva e de qualidade.
Em meio a tanto outros exemplos continuamos reféns dos meios de comunicação. Sabemos que a informação no Brasil é monopolizada pelas forças conservadoras, no chamado Estado “democrático e de direito”. Essa mesma mídia que permite e contribui com o discurso ufanista do desenvolvimento moderno do campo brasileiro, mas que na verdade mantém os trabalhadores nessa situação de penúria e risco constantes.
A morte dos 14 bóias frias não é fruto do acaso e nem de um inesperado e trágico acidente. É sim o resultado nítido da perversidade de um pseudo modelo de desenvolvimento: excludente e do totalitário do lucro.
Dados da CPT estimam a existência de 30 mil trabalhadores rurais submetidos a trabalhos “forçados” em situação análoga à de escravidão. Confiram, por exemplo, o Filme documentário em DVD “NAS TERRAS DO BEM VIRÁ – Irmã Dorothy”.
Exigimos que os familiares das vitimas sejam justamente indenizados e que as autoridades competentes punam os responsáveis e que adotem as medidas necessárias para que fatos como este não se repitam. Que os dirigentes do Estado possam repensar a atual política de desenvolvimento para o campo brasileiro que continua privilegiando os ganhos dos investidores, na contramão da qualidade de vida dos trabalhadores rurais.
Comissão Pastoral da Terra
Associação Brasileira de Reforma Agrária
14 bóias-frias mortos pelo modelo de ''desenvolvimento'' brasileiro
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