Uma família de assentado composta por cinco pessoas foi torturada e espancada na madrugada desta segunda-feira (10) no assentamento localizado na Fazenda Quirino, próximo ao município de Juarez Távora, no Agreste paraibano. A família foi acordada no meio da noite com o barulho da porta arrombada. Eles foram amarrados e, imobilizados, sofreram chutes, socos e tapões. Uma mulher foi vítima de tentativa de estupro. Um dos agredidos afirma que entre os torturadores há um policial civil envolvido.
Os agressores invadiram a casa por volta da 1h da manhã desta segunda-feira. Aos gritos, os agressores arrombaram a porta da frente da casa e arrancaram todos de suas camas, onde dormiam. Um deles gritava para que todos acordassem, do contrário haveria morte. A família acredita que o bando era composto por nove ou dez homens.
As cinco pessoas da família agredida, inclusive uma criança de quatro anos, compareceram na tarde de hoje à sede da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sedes), em Mangabeira, na Capital, para apresentar a denúncia do ato violento e pedir pela garantia de suas vidas. De lá, eles devem ir ao Departamento Médico Legal (DML) para fazer exame de corpo delito. A família está sendo acompanhada pelo chefe da Ouvidoria do Incra da Paraíba, o advogado Cleofas Caju. Assustada, a família teme que os agressores voltem a atentar contra as suas vidas, já que alguns dos envolvidos foram identificados. Um deles, segundo José Luiz, é o agente de investigação da Policia Cívil Sérgio de Sousa Azevedo.
Entre as vítimas estão o agricultor José Luiz da Silva, 45 anos. Ele foi espancado com chutes e ponta-pés no rosto e nas costas. Ele também foi esbofeteado e sofreu várias coronhadas na cabeça. Deu sorte - A esposa de José Luiz, Severina dos Santos Silva, 43, sofreu vários chutes nas costas e também na altura do ventre. Segundo ela, um dos agressores tentou estuprá-la chegando, inclusive, a arrancar-lhe a calcinha. Ela disse que o ato só não foi consumado porque estava menstruada. Os três filhos do casal de agricultores também foram espancados e torturados. O mais velho, Evandro Belarmino da Silva, 15, está bastante machucado. Ele sofreu vários socos no rosto, especialmente no olho esquerdo. Segundo José Luiz, o adolescente teria, a acerta altura da tortura, levantado o rosto e reconhecido alguns dos espancadores.
A adolescente Renata Belarmino da Silva, 10, teve as mãos amarradas. A irmã menor, Raissa Belarmino da Silva, de apenas 4 anos, foi arrastada pelos cabelos e jogada sobre o corpo da mãe. Como chorava muito, levou vários tapas na cabeça aplicados por um dos agressores que, aos gritos, mandava que ela parasse de chorar. Segundo José Luiz, dois dos agressores, um deles identificado como sendo o policial Sérgio Azevedo, ficou ao lado da porta, comandando toda a ação. Junto com ele estava um segundo homem, todos encapuzados. A família diz não ter dúvida sobre quem ele é: "eu escutei a voz dele e reconheci logo. Também vi a altura dele e a cor. Era o policial Azevedo", garantiu o agricultor agredido. Os outros homens estavam com os rostos à mostra.
O local onde aconteceram as agressões está sendo ocupado por várias famílias. O Incra tenta na Justiça Federal a desapropriação da propriedade que pertence a Alcides Vieira. O Incra da Paraíba já apresentou, inclusive, pedido de compra da fazenda pondo fim ao impasse. Mas, segundo o ouvidor do Incra, a família vem procastinando, ou seja, usando de vários recursos legais para atrasar a decisão da Justiça.
O filho mais velho do casal de agricultores disse que reconheceu Carlos Alberto Bezerra, neto de Alcides Vieira, entre o bando. O parente direto do proprietário teria ficado do lado de fora da casa, ao lado de uma savero cor prata que teria sido usada para transportar os agressores.
Patrícia Braz, Correio da Paraíba (caderno Portal Correio ONLINE),12 de dezembro de 2007 Segunda, 10 de Dezembro de 2007 - 16h46.