CNBB condena a política de aliança de Lula
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Negociações em busca de apoio feitas pelo presidente são criticadas pela confederação, que também questiona o Bolsa-Família. BRASÍLIA – No momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negocia com os partidos a composição do seu segundo governo, a estratégia adotada pelo petista de buscar alianças com vários partidos para garantir apoio para o novo mandato foi duramente criticada pelo presidente da Comissão para Serviço de Caridade, Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Aldo Pagotto. Para ele, barganha com partidos "é uma reprodução de um sistema viciado".
Dizendo estar "decepcionado", ele afirma que o presidente deveria dedicar esta etapa à discussão de um projeto para o povo, não com representantes de partidos, mas com representantes de movimentos sociais. "A atitude de negociar no varejo traz um gosto de decepção e amargura na nossa boca", resumiu.
O presidente do CNBB, d. Geraldo Majella Agnelo, foi menos contundente. Mas não deixou de classificar como "duvidosa" as alianças feitas com partidos em nome de cargos e ministérios.
Para ele, a adesão deveria ser espontânea. D. Pagotto observa que, além de reproduzir "um sistema viciado", as negociações, "quando restritas a representantes políticos, dificilmente trazem mecanismos que favoreçam reformas necessárias ao País". Ao contrário. Tais discussões, completa, "geralmente têm como alvo apenas interesses corporativos". "O povo não está mais opinando. Nós também temos de dar nossas opiniões. E não um representante, que não dá nem mesmo satisfação de sua gestão."
Dom Demétrio Valentini, presidente da Caritas, admitiu que Lula está no seu direito de fazer essas negociações. "Mas não basta uma governabilidade no Congresso. É preciso que o presidente se mostre com mais segurança agora do que no primeiro mandato. Com condições melhores de escutar os movimentos populares, que têm demandas bem concretas."
BOLSA-FAMÍLIA – Entre as críticas da CNBB está o Bolsa-Família. "É um programa que vicia", resumiu Pagotto. Ele afirma que contrapartidas das famílias "não são exigidas". "São várias famílias que se contentam com o mínimo", completou. Para Pagotto, é essencial que além da assistência, seja ofertado para famílias beneficiadas cursos e atividades que favoreçam o ingresso no mercado de trabalho. "É preciso que se dê para adolescentes oportunidades de estudo não só acadêmico, mas também profissionalizante. Além de não garantir a independência das famílias, o programa tem um caráter individual, que também reforça a tendência de acomodação. Não estamos vendo o povo se juntar, se organizar." O mesmo processo, afirma, ocorre também com assentamentos de sem terra. "São verdadeiras favelizações rurais. Sem condições de crédito, sem auxílio técnico, o povo vai desistindo de plantar. Não é uma crítica cáustica. Mas esses programas têm de ser urgentemente otimizados." Dom Valentini, porém, saiu em defesa do programa de assistência. "O governo se sente autorizado pela votação que teve e aprimorar os programas sociais", disse.
Fonte: Jornal do Commercio
Publicado em 18.11.2006