Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Após anos de luta, centro cultural é criado para gerar renda e perpetuar as raízes artísticas da comunidade negra, fundada por três escravas do Quilombo de Palmares EMANUEL ANDRADE Especial para o JC

SALGUEIRO - Única comunidade quilombola encravada no Sertão do Estado, Conceição das Crioulas, segundo distrito de Salgueiro, agora respira arte para valer. Após anos de luta, os moradores ganharam um definitivo e amplo espaço onde já desenvolvem suas peças artesanais feitas de barro, caroá, imbira e algodão. Além de fonte de renda, a atividade funciona como forma de perpetuar as raízes artísticas de origem negra.

Em homenagem a uma das três fundadoras da comunidade, que no passado fugiram do Quilombo dos Palmares para o lugar, dando origem a Conceição, o espaço foi batizado de Centro de Produção Artesanal - Casa da Comunidade Francisca Ferreira.

A iniciativa do centro não é só reunir as famílias assistidas através da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas(AQCC), mas abrir um leque de atividades socioculturais, entre elas ensinar as crianças noções de arte e técnicas de produção de artesanato para que possam multiplicar o interesse pelo trabalho que vem sendo feito na comunidade. Um pátio instalado no fundo do prédio é reservado para reunir alunos de escolas da rede de ensino da zona rural e da cidade. Elas participam de sessões de contação de histórias e filmes educativos.

Além de bolsas, colares, pulseiras, bonecas, jogo americano, instrumentos musicais (ocarinas de barro), utensílios domésticos e peças ornamentais feitos pelos artesãos, um grupo de mulheres se encarrega de beneficiar as frutas garantindo a produção de doces e popas a partir do leite e umbu. O artesanato, por sua vez, já atravessou fronteiras dentro e fora do país. "Nossas peças já foram comercializadas em São Paulo, Recife, Salvador, Brasília e até na Itália", diz orgulhosa a professora Maria de Lourdes da Silva, 39 anos, que atua no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e coordena a biblioteca afro-indígena da localidade.

Lourdinha, como é chamada na comunidade, explica que todas as famílias envolvidas com os programas da AQCC são remuneradas de acordo com a produção, tendo direito a uma percentagem estipulada para cada produto. "Estamos apenas começando e trabalhando para ampliar o raio de pessoas assistidas e a linha de produtos, o que já começamos a fazer por meio de oficinas", assegura a educadora.

A AQCC conta com a assessoria do Centro Luiz Freire e apoio da Prefeitura de Salgueiro, que dá suporte na infra-estrutura do Centro de Produção. Para a vereadora Givânia Maria da Silva, nascida e criada em Conceição e a única mulher a ocupar uma cadeira na Câmara, as ações desenvolvidas em sua comunidade são importantes do ponto de vista da afirmação e do projeto para a sociedade quilombola.

Ela lamenta, no entanto, que ainda existam entraves na questão da terra, o que atrapalha o progresso local. "Enquanto o governo federal não garantir a desapropriação, somos obrigados a conviver com posseiros que dominam 70% das terras em melhores condições de se produzir", ressalta Givânia.

Fonte: Jornal do Commercio

Publicado em 19.11.2006

 

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