A servidora pública Maria do Carmo Dória, que corre atrás de toda a documentação para garantir qualidade de vida para o esposo e o filho, relata as dificuldades. “Em 2008 eu dei entrada em um pedido no Ministério Público Federal para conseguir atendimento médico ao meu marido e somente esta semana recebi um ofício. Também já entrei com um processo de insalubridade para Vital, mas até agora não recebemos nada. Também denunciamos o médico perito que o analisou por conta de negligência”, declarou.
Vital trabalhou por vários anos como balconista na Companhia Agrícola de Sergipe, até que um dia começou a se sentir mal, quando trabalhava em Itabaiana. Após exames médicos, foi constatado que estava sofrendo de vários males por causa do contato frequente com agrotóxicos, sendo diagnosticados problemas no coração, fígado e próstata. “Quando ele soube, chorou demais, principalmente quando começou a ver o depoimento de outras pessoas que já haviam sido contaminadas”, comentou a esposa.
A servidora, que chegou a sofrer cinco abortos por conta da contaminação sofrida pelo esposo, falou também sobre o medo de ver os futuros descendentes sofrerem dos mesmos males. “Ele só começou a sofrer os efeitos depois de muitos anos. Aqui no Brasil, esses produtos entram com facilidade e depois as pessoas começam a morrer sem saber o motivo. O pior é que a gente viu uma pesquisa falando que esses problemas podem chegar até a quarta geração da família, o que significa que os filhos e os netos de Matheus também podem ter o mesmo problema”, desabafou Maria do Carmo.
Emdagro fiscaliza uso e venda de agrotóxicos
Os principais pólos agrícolas de Sergipe e estabelecimentos comerciais que vendem agrotóxicos passam por uma fiscalização periódica. A Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), órgão estadual responsável pela fiscalização, verifica o cumprimento de regras como apresentação de receita agronômica, equipamentos de proteção individual e o intervalo para aplicação dos agrotóxicos e a colheita da produção. Esse trabalho visa controlar o uso indiscriminado do produto, que atinge principalmente as hortaliças.
A coordenadora de Defesa Vegetal da Emdagro, Maria Aparecida Nascimento, ressaltou a necessidade de medidas de segurança no uso desses produtos. “O uso de agrotóxicos é uma tecnologia importante no controle de pragas, doenças e ervas daninhas, mas podem ser perigosos se forem usados de forma errada. Portanto, para ser utilizado deve existir uma estrutura técnica capacitada, para que sejam obedecidas as exigências legais e não ocorra nenhum impacto em toda cadeia produtiva”, explicou.
Nas propriedades agrícolas, a equipe da Emdagro exige a apresentação das receitas agronômicas dos agrotóxicos encontrados, o armazenamento correto dos produtos, equipamentos de proteção individual em perfeitas condições de uso e pulverizadores em perfeitas condições. Também é verificado se está sendo respeitado o período de carência na lavoura e o período de reentrada no local da pulverização, além da devolução correta das embalagens vazias. Já nos estabelecimentos comerciais, as exigências são: cópias das receitas agronômicas, conferência do estoque com a quantidade declarada na Emdagro, armazenamento dos agrotóxicos, validade dos produtos, validade do certificado, entre outros itens.
A Coordenadoria de Defesa Vegetal da Emdagro realiza também um trabalho de Educação Sanitária junto ao agricultor, com objetivo de alertar os riscos do uso inadequado dos agrotóxicos. Além disso, o órgão divulga tecnologias alternativas de controle de pragas na agricultura, com uma nova abordagem de agricultura, a agroecologia, que tem como objetivo produzir alimentos mais saudáveis e naturais tendo como principio básico o uso racional dos recursos naturais.
Fonte: Alagoas 24 Horas