A Via Campesina na Cúpula da FAO
Ao redor de 40 camponeses e camponesas provenientes de 25 países do mundo, membros do movimento internacional La Vía Campesina, vão se reunir em Roma para a Cúpula Mundial da FAO sobre Soberania Alimentar e para o Fórum da Sociedade Civil, que acontecerá entre os dias 13 e 18 de novembro. "Não é mais hora de falar", disse recentemente Nettie Wiebe, uma agricultora canadense, líder do movimento.Ironicamente, essa crise alimentar sem precedentes aumenta com o desenvolvimento de iniciativas encaminhadas na mesma direção de políticas que criaram o desastre atual. É o caso do Partenariato Global para a Agricultura e Segurança Alimentar e do Fundo Fiduciário para a Segurança Alimentar do Banco Mundial (BM), apoiados pelo G-20. Financiam o desenvolvimento de tecnologias para a "revolução verde", que incrementam a dependência dos agricultores do mercado e que propiciam a destruição dos solos. Todas essas iniciativas promovem mais políticas de livre comércio e trabalham lado a lado com a agroindústria.
No entanto, as grandes companhias não têm nenhum interesse em salvar o mundo da fome. Concentram-se em aumentar suas margens de benefícios e de participações no mercado. O que aconteceu durante a crise alimentar em 2007 foi muito ilustrativo: as companhias dedicadas ao agronegócio tiveram enormes benefícios (1), enquanto que milhões de pessoas sucumbiram à fome e à pobreza. Atualmente, as terras agrícolas converteram-se em um investimento proveitoso e as companhias estão tomando enormes quantidades de terreno ao redor do mundo, expulsando os agricultores locais para poder produzir alimentos para exportar ou para transformar-se em agrocombustíveis.
Durante a Cúpula da FAO, em Roma, a Vía Campesina defenderá a necessidade de uma nova governança frente à alimentação e à agricultura, para chegar a soluções frente à crise alimentar e à atual crise climática. As políticas alimentares não devem ficar nas mãos dos "clubes de doadoras" e das instituições financeiras. Um sistema de governança democrática -como o que está sendo discutido no Comitê de Segurança Alimentar Mundial da FAO- deve ser implementado imediatamente para assegurar que os países e os povos no mundo tenham o direito a colocar em marcha a soberania alimentar, entendida como o direito das comunidades e das nações a desenvolver e promover seus próprios sistemas locais e políticas alimentares, respeitando as culturas e o meio ambiente.
"Durante o Fórum da Sociedade Civil, em Roma, serviremos comidas ecológicas procedentes dos cultivos dos/as agricultores/as locais. Regularmente também oferecemos uma média de 150 mil comidas ecológicas em restaurantes escolares, em toda a Itália", explicou Andrea Ferrante, da Associação Italiana de Agricultura Biológica (AIAB), uma organização membro da Vía Campesina. "A Soberania Alimentar começa a cada dia com cada comida. Já está sendo implementada localmente em muitos lugares e com vontade política podemos difundi-la ao redor do mundo, resolvendo a atual crise alimentar", agregou.
Nota:
(1) Por exemplo, Cargill, a maior empresa comercializadora de grãos do mundo, informou um aumento em seus benefícios ao redor de 70% em 2007 - 157% de aumento nos benefícios desde 2006. (http://www.grain.org/seedling/?id=592)/
(Jacarta, 9 novembro de 2009)
* Movimento internacional de camponeses e camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas