Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A Comissão Pastoral da Terra elaborou um Cordel em homenagem às famílias que habitam e habitavam as Ilhas de Sirinhaém, no litoral sul de Pernambuco.  O Cordel, escrito pela poetisa e integrante da CPT NE 2,Sonia Freitas, faz um resgate da história de luta dessas famílias, que há mais de 15 anos, resistem contra o avanço do monocultivo da cana de açúcar na região, impulsionado pela presença da Usina Trapiche, que ao se instalar na área, iniciou um processo de degradação do estuário e do mangue de Sirinhaém.

Em 2006, as famílias, com o apoio da Comissão Pastoral da Terra, passaram a exigir a criação de uma Reserva Extrativista (Resex) na região - unidade de conservação que permite a exploração dos recursos da natureza por populações tradicionais. As famílias seguem resistindo!

 

 

 

AS ILHAS DE SIRINHAÉM - “AQUI É O NOSSO LUGAR”

 Autora: Sônia Freitas

               

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Neste mundo de meu Deus

Há muitas e muitas injustiças

Fruto da ganância dos ricos

Da maldade e da cobiça

Que aos pobres só excluem

Com seu poder e malícia.

 

        

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Com o massacre dos poderosos

Só resta aos pobres se unir e lutar

Neste país que é tão desigual

Em se falando de classe popular

Que buscam o Direito de ter Direitos

É necessário e urgente se organizar.

                  

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Vou contar uma grande história

Vou falar prestem bem atenção

O que se deu com os pescadores

Moradores das Terras da União

Nas 17 Ilhas de Sirinhaém – PE

Não era difícil pescar no rio não.

 

                

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57 famílias de pescadores/as

Várias gerações nas ilhas moravam

Tirando o sustento da terra, do rio...

Respeitando a natureza pescavam

Em harmonia com Meio Ambiente

Pois nem um pássaro maltratavam.

 

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Respeitavam a Fauna e a Flora

O rio com seus peixes brincando

Tinha camurim Açú, tainha, Carimã

Arraia, Tilápia, Manjuba tudo pulando

As famílias com muito cuidado

Sua comida, seu sustento tirando.

 

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Mais de 210 espécies de aves

Foram encontradas nas ilhas Juriti

Rouxinol, Sanhaçús e Carcarás

Sebitos formigueiros e Bem-te-vi

Pica-pau-de-cabeça-vermelha

Gavião, dorminhoco e siriri.

 

 

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Andorinha-do-rio, Pitiguari

Garça-branca-grande

Beija-flor, socozinho, anu-preto

Lavandeira, Sanhaçu-do-mangue

João de barro, Bacurau e coruja

Tetéu e tantos outros nomes.

 

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Nas ilhas também tem muito

Várias cobras caninanas

Teju, jacaré-de-papo-amarelo

Sapo-cururu, macacos e bananas

Lagartos, tatu e tamanduá

Se brincar tem até onça sussuarana.

 

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Nas ilhas tem muitas mangueiras

O povo pescando todo dia e semana

Mas também cultivam muitas frutas

Caju, côco, acerola, araçá, banana

Além de mandioca, inhame, milho,

Feijão,mamão, goiaba e manga.

 

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Estou falando essas coisas todas

Para toda população entender

O que existia nas ilhas antes

Um lugar bom e bonito de se viver

Se o povo pescavam e plantavam

Tinham de tudo para comer.

 

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Mais os ricos não podem ver

O povo vivendo alegre, contente

Vão chegando com ganância e fúria

Para expulsar toda essa gente

Com a monocultura da cana

Deixando o povo com fome e doente.

 

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Como começou os conflitos nas ilhas

Naquela belíssima e gostosa região

Das 32 ilhas, 17 sob o foro da usina

De açúcar Trapiche com exploração

Expulsando o povo de seu lugar

Das pertencente terras da União.

 

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Os conflitos continuam nas ilhas

A usina polui as áreas de preservação

E botando a culpa nos pescadores

Mas eles respeitam e dão proteção

É responsabilidade do governo sim

Monitorar as ilhas com fiscalização.

 

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A usina de cana de açúcar Trapiche

Despeja lixo, vinhoto nos rios

Matando peixes tudo o que é vivente

Chegando até sentir um calafrio

A CPP Assessora os pescadores/as

Mais ainda continua os grandes desafios.

 

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Denunciaram ao Ministério público

 CPRH, IBAMA, Terra de Direitos também

A usina nega o derramamento de poluentes

E continua os conflitos, naquele vai-e-vem

Enquanto isso morrem 18 mil ostras  e só

Prejudicando as comunidades de Sirinhaém.

 

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A usina além de criminalizar

Os moradores que ali viviam

Derrubaram e queimaram as casas

Pra ver se assim eles desistiam

Deixando as terras livres para a usina

Pois era o que os usineiros mais queriam.

 

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Com tantas ameaças feitas pela usina

Promessas falsas, e o povo explorando

Os pescadores foram deixando as ilhas

E nas periferias de Sirinhaém estão morando

Sem casa, sem trabalho digno pra viver

As promessas da usina foi só engano.

 

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Só apenas 02 famílias resistiram

Vivem Isoladas na Ilha Constantino

Dalí tiram seu sustento do dia-a-dia

Famílias formada por mulheres e meninos

Maria Nazaré e Maria das Dores

Mulheres de muita fé vão resistindo.

 

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O Brasil precisa de Mulheres assim

Que tem muita garra e decisão

Ameaçadas e suas casas destruídas

E várias vezes levadas para a prisão

Elas nunca desistiram da luta

E dizem: da Ilha não saímos não.

 

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Vivendo mais de 40 anos nas ilhas

Aquela gente, povo trabalhador

Hoje em situação de muita pobreza

A Vida violentada como não tivesse valor

Pelos capangas e pela usina Trapiche

Proibidos de pescar, a pescadora, o pescador.

 

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Há muito tempo está fazendo que

As famílias são assessoradas pela CPP

Depois de tantas denúncias e conflitos

Acompanhadas também pela CPT

Vai ser criada a Reserva Extrativista

A Resex , o povo pressionando vai acontecer.

 

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Devido a tanta injustiça e opressão

Contra as pescadoras e pescadores

Dessa gente tão sofrida, excluída

Não suportando tanto clamores

A CPT, CPP e outras Entidades

Em parceria para ajudar os moradores.

 

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Com a criação da Reserva Extrativista

Nas terras denominada da União

O povo pode voltar a trabalhar, utilizar

Os recursos naturais com conservação

Respeitando  Meio Ambiente sim

Pescando e fazendo a  plantação.

 

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Daí o povo volta a pescar e plantar

Vão ter o suficiente para o que comer

Com o resgate do Saber Popular

O povo participando mais Vida vão ter

Os peixes, as aves, o mangue, as árvores

Em grande harmonia vão viver.

 

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A Vida vai sim voltar a sorrir

Naquelas Ilhas, naquela região

A cana não vai  mais ali existir

A floresta em festa e a vegetação

Os pássaros construindo seus ninhos

O povo feliz dizendo:Aqui é nosso chão.

 

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Não vai ter mais espaço para conflitos

Não vai ter mais vez os usineiros

Só vai ter crianças brincando felizes

Correndo e pulando nos terreiros

É o lugar dos Ribeirinhos, dos Pobres

Dos pescadores, das Mulheres guerreiras.

 

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Vou ficando por aqui com meus versos

Tentei contar um pouco da história

Do povo das Ilhas de Sirinhaém

Com certeza vai ficar na memória

Viva a Vida, viva toda essa  gente

Que sente o gosto da vitória.

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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