Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

No município de Cocos, situado na região Oeste da Bahia, a 980 km de Salvador, comunidades ribeirinhas estão preocupadas com a chegada de empresas barrageiras na região. Essas comunidades estão localizadas às margens dos rios Carinhanha e Itaguari, para onde estão projetadas 12 barragens, conforme dados do documento Inventário dos Rios desenvolvido pela CHESF (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco). Entre os dias 17 e 20 de agosto a CPT Lapa e Barra realizará uma segunda séria de visitas para levantar informações e mobilizar as comunidades ameaçadas. O primeiro mutirão de visitas ocorreu entre 4 e 7 de maio deste ano, com participação de agentes da Comissão Pastoral da Terra das dioceses de Bom Jesus da Lapa, Barra e de Minas Gerais, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Paróquia de Cocos, e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Constatou-se a angústia dos ribeirinhos quanto ao futuro incerto de suas famílias. Durante as visitas foram mapeadas 50 comunidades, chegando a uma média de 3.500 famílias que sofrem ameaças diretas, pois estão localizadas nos canteiros das obras.

 

No rio Carinhanha, localizado entre os municípios de Cocos, na Bahia, e Bonito de Minas, Montalvânia, Chapada Gaúcha e Manga, em Minas Gerais, está projetada a construção de sete barragens, sendo três Usinas Hidroelétricas e quatro Pequenas Centrais Hidroelétricas. Segundo os moradores destas comunidades, desde o final de 2008 os mesmos vêm sofrendo com as investidas das empresas barrageiras que chegam e entram nas propriedades sem nenhuma autorização, realizam medições, colocam marcos e não prestam qualquer informação ou esclarecimentos às famílias. Os prepostos das empresas tentam intimidar as comunidades alegando que as barragens são de interesse do governo e que as famílias devem se desfazer de suas propriedades.

 

Essa situação tem deixado às famílias apavoradas, porque acreditam que se vier a construir barragens, terão de sair de suas terras e migrar para outras regiões ou centros urbanos, perdendo assim o seu território, sua cultura, religião e suas características construídas secularmente neste ambiente. Em depoimento, dona Dina da comunidade de Salobro afirma: “se a barragem vier, nós vamos ter que morar nas cidades e passar fome, pois a nossa profissão é trabalhar na roça e vamos ver nossos filhos e netos entrarem para o mundo do crime, pois lá não tem outra coisa a oferecer para a gente”. Segundo Marly Lessa, militante do MAB, “essas comunidades vivem há mais de 200 anos em relação harmoniosa com a natureza e o rio é vida e base de sustentação das famílias que produzem nos vales a partir de sistemas de irrigação artesanal (rêgos) de onde tiram o feijão, o arroz, batata, mandioca, cana-de-acuçar, milho, hortaliças e de pequenos criatórios de galinha, porco e gado, além do extrativismo dos frutos do cerrado. Se vierem as barragens, toda essa riqueza deixará de existir”.

 

Além dos problemas sociais e econômicos, as comunidades levantam grandes preocupações ambientais, pois com a construção das barragens, os pequenos rios que alimentam o Carinhanha poderão desaparecer. A extinção de várias espécies animais e vegetais é outra preocupação. O Sr. Messias Bento da comunidade de Sumidouro das Gaitas afirma: “mais de 150 mil pés de buritis morrerão embaixo das águas das inundações provocadas pelas  barragens”. Frente a essa realidade e preocupadas com o futuro, as comunidades ameaçadas vem buscando informações e se organizando para evitar essa tragédia, fazendo resistência na defesa dos seus territórios e dizendo não as barragens, empunhando o lema: Águas para a Vida e não para a Morte.

 

 

CPT Bahia

 

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