Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A Consulta pública, etapa final do processo de criação da Reserva Extrativista (Resex) nas Ilhas de Sirinhaém (litoral sul de Pernambuco), será finalmente realizada no próximo dia 21 de agosto, no município de mesmo nome.  Na ocasião, será apresentado o projeto de criação da Resex na área. Em um período de dois meses, a Consulta pública chegou a ser adiada três vezes, por desentendimentos entre os órgãos Federal e Estadual, no que diz respeito à competência e método para a criação da Reserva na área.

A Reserva Extrativista é uma unidade de conservação que permite a exploração dos recursos da natureza por populações tradicionais. O objetivo da criação da Resex nas Ilhas de Sirinhaém é garantir a proteção do manguezal, o ordenamento pesqueiro na área e o retorno das famílias de pescadores tradicionais que viviam na região, há mais de 60 anos, mas que foram expulsas do local pela ação brutal da Usina Trapiche.

 

O pedido de criação de uma Resex na área foi encaminhado pelas famílias que ainda resistem e as que foram expulsas, com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), em 2006. Os estudos que atestam as características da área como adequada a se tornar Reserva Extrativista já foram elaborados e entregue aos órgãos competentes. Os levantamentos técnicos indicam que a área a ser destinada à Reserva  Extrativista é de 2.600 hectares, entre os municípios de Sirinhaém e Ipojuca. Ao todo, mais de oito mil pessoas de comunidades  que ocupavam tradicionalmente o local serão beneficiadas com a criação da Resex.

 

 

"Espera-se que a Resex freie a ação criminosa das Usinas que poluem a região"


O Padre Thiago Thorlby, da CPT e que acompanha as famílias da área, alerta para a necessidade urgente da criação da Resex no local. “Se não for criada o quanto antes, as ilhas de Sirinhaém serão completamente devastadas pela atuação da Usina Trapiche e as comunidades que viviam no local terão apenas o desemprego ou o corte de cana como alternativas”, comenta. “Espera-se que a Resex freie a ação criminosa das usinas que poluem a região, que matam a flora, a fauna e aqueles que vivem no mangue. Se hoje estamos realizando essa Consulta Publica é devido somente ao esforço do povo atingido pela ação das Usinas, que foram despejados de maneira violenta, ilícita e arbitrária, mas com a cobertura de sempre: do estado, do poder judiciário” complementa.

 

Situação das famílias e do meio ambiente -  Cerca de 53 famílias de pescadores tradicionais e marisqueiras viviam e trabalhavam na área de maneira sustentável. Mas, o processo de devastação do meio ambiente e de expulsão das famílias do local iniciou-se há aproximadamente 15 anos, com invasão da área pela Usina Trapiche. Por meio de ações ilegais e criminosas, a Usina expulsou, uma a uma, as famílias da área, para viverem nas periferias de Sirinhaém. Além de ameaçar e expulsar a comunidade das terras, a Usina promoveu desmatamentos dos sítios e poluição dos rios, causada pelo despejo de vinhoto.  Atualmente, apenas duas famílias permanecem no local, resistindo às ameaças da Usina. A Usina chegou a ser autuada, em julho de 2008, e enfrenta uma multa de R$20 milhões por cometer diversos crimes ambientais.

 

 

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