É, e a gente achou que isso aqui seria uma barbada..." O comentário de um participante pró-transgênico durante a audiência pública da CTNBio, realizada nesta quarta-feira (18/3) em Brasília para discutir o arroz geneticamente modificado da Bayer, mostra bem como os argumentos da empresa foram desconstruídos com propriedade por ambientalistas, grandes produtores e alguns cientistas, todos preocupados com o alto impacto negativo que a introdução do arroz LL62 poderá causar no meio ambiente e no mercado brasileiro do produto. A empresa não apresentou à Comissão estudos sobre resíduos de agrotóxico nos grãos e negligenciou o alto potencial de contaminação do seu arroz transgênico na produção brasileira. Não à toa, durante a audiência, recebeu críticas até de prováveis aliados, como a Embrapa, Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que deixaram claro que não querem que o arroz transgênico da Bayer seja aprovado no Brasil.
Os consumidores brasileiros também não querem. Em pouco mais de uma semana, reunimos mais de 15 mil assinaturas de pessoas contrárias à liberação do arroz transgênico da Bayer no país. Participe também, assine aqui a nossa petição.
A audiência pública contou com 12 palestrantes, que tiveram 15 minutos cada para fazer sua defesa ou crítica.
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O arroz transgênico da Bayer está na pauta de votação da CTNBio desta quinta-feira (19/3). A reunião da Comissão começa às 9 horas no auditório do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em Brasília.
Rafael Cruz, coordenador da campanha de transgênicos do Greenpeace, afirmou durante sua exposição que o risco de contaminação do arroz brasileiro por variedades transgênicas é um grande problema para a agricultura, especialmente neste momento que o país busca espaço no mercado externo.
“O escândalo da contaminação de campos de arroz nos Estados Unidos, vazada de campos experimentais de arroz transgênico da Bayer, gerou um grande trauma no mercado internacional. Ninguém quer o arroz da Bayer no seu campo, nem no seu prato”, disse Rafael Cruz.
João Volkmann, produtor de arroz biodinâmico no Rio Grande do Sul, também mostrou receio em relação à possibilidade de ver sua lavoura contaminada por transgênicos. Ele, que tem sua produção certificada nos Estados Unidos e no Japão, tem certeza de que, uma vez liberado no campo, o arroz transgênico da Bayer causará prejuízos aos agricultores gaúchos, afetando consequentemente a produção nacional de arroz - o Rio Grande do Sul é responsável hoje por 63% de todo o arroz produzido no país segundo dados apresentados na audiência.
Rejeição
O posicionamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na audiência pública, um dos mais esperados do dia, foi enfático. Flávio Braseghello, da Embrapa Arroz e Feijão, lembrou que é grande a probabilidade de cruzamento entre arroz transgênico e arroz vermelho, considerado erva indesejada pelos rizicultores sulistas.
Segundo ele, “uma vez liberado no meio ambiente, não há controle, não há possibilidade de se fazer recall”. Em seguida, sentenciou que a Embrapa se posiciona contra a liberação deste transgênico.
A pesquisadora e médica Nise Yamaguishi, questionou a falta de cuidado da Bayer ao não apresentar estudos de toxicologia da planta. Segundo ela, a própria Monsanto já lhe declarou que a CTNBio nunca pediu estudos de efeitos de transgênicos à saúde humana, e ressaltou que a empresa que propõe transgênicos tem que provar que são seguros.
Fonte: Site do GREENPEACE, 18/03/09