Convocados e convocadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) nos reunimos - no mês em que celebramos o centenário do profeta nordestino, Dom Hélder Câmara - à luz da Palavra que faz o cego enxergar e que liberta os oprimidos, e na memória e no sangue dos nossos mártires da terra, para refletir os 25 anos de testemunho da Pastoral da Terra no campo alagoano.
Somos um povo camponês que reza, sonha e luta. Recebemos a missão de transformar o campo no melhor lugar de viver, acreditamos que somos enviados por Javé, o Deus libertador, para cuidar da terra, zelar pelos rios e pelas matas. Com a autoridade que vem de Deus expulsamos os demônios do latifúndio e fecundamos a semente da nova vida. Somos de uma Pastoral de conflito, uma Pastoral de fé, uma Pastoral conselheira e de esperança.
Chegamos do sertão, da zona da mata e do litoral, dos nossos acampamentos e assentamentos, trazendo uma riqueza de experiências, que foram acumuladas embaixo da lona preta, nutridas pelos alimentos das nossas roças. Estas experiências são frutos das nossas lutas que partilhamos com os companheiros e companheiras de caminhada.
Alegrou-nos a presença de pessoas amigas do movimento camponês e sindical, dos partidos políticos, do arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz e de pessoas que deram testemunhos históricos sobre o início da CPT em Alagoas.
Envergonha-nos a postura da maioria dos deputados que compõe o poder legislativo alagoano, envolvidos em escândalos de corrupção. Juntamo-nos ao sentimento da sociedade de total descrédito e somos solidários aos movimentos sociais que ocuparam a Assembléia Legislativa.
Constatamos que nesses 25 anos, apesar das nossas investidas e conquistas contra o latifúndio, a estrutura fundiária continua ainda mais perversa: a expulsão das famílias do campo, a devastação das roças e do meio ambiente, a destruição das moradias e a concentração de terra e de renda. Além disso, vemos que o governo Lula não teve coragem para efetivar a reforma agrária e continua fortalecendo o agronegócio da cana.
Sonhamos e trabalhamos para que chegue o dia em que vamos conquistar e libertar as terras do monocultivo e produzir comida para os nossos irmãos e irmãs que vivem na mais absoluta miséria em Alagoas.
Lutaremos com firmeza, unidos com os movimentos do campo e da cidade, para derrotar o modelo agro-exportador, a corrupção que assola nosso estado e a concentração da riqueza que gera violência, miséria e morte.
Decidimos continuar o processo de formação nas áreas, intensificar as feiras camponesas, incentivar o aumento e escoamento da produção, apoiar e contribuir com a luta dos movimentos sociais.
Na fidelidade ao Deus dos pobres, a serviço dos povos da terra queremos “ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca” (Amós 5, 24).
Centro Catequético dos Irmãos Maristas
Barra de São Miguel/AL
17 a 19 de fevereiro de 2009.