A CPT vem a público manifestar indignação frente à barbárie do assassinato dos trabalhadores rurais Tiago, Luis e Josimar, ocorrido no dia 15/10/08, no município de Monte Santo/BA, ao tempo em que declaram solidariedade às suas famílias e exigem das autoridades competentes a adoção das medidas necessárias à punição dos culpados para que coíba outros usos de violência que se propagam nesta região. Foi uma tragédia anunciada! Por todas as veredas do sertão montesantense tem-se a dolorosa certeza de que os donos das cercas calaram mais três trabalhadores rurais, numa emboscada na estrada do Assentamento Santa Luzia. Suas covas, ao lado dos jazigos dos mártires Romildo e José de Juriti são agora seus quinhões de terra que queriam ver dividida.
Não foram os primeiros e tememos que não sejam os últimos. Há rumores de que os fazendeiros organizam uma lista diabólica de condenados. Nela estão relacionados os nomes daqueles que ousaram se insurgir contra a violência do latifúndio e contra a pobreza que assola a população rural, na esperança de uma sobrevivência mais digna e justa.
O Monte, santo no nome, transformou-se em palco de conflitos agrários. Os dados denunciam que cerca de 80% do território municipal é composto de terras públicas devolutas pertencentes ao estado da Bahia e que a maior parte destas está concentrada ilegalmente nas mãos de um pequeno grupo de fazendeiros, que se vale do próprio Poder Judiciário para legitimar a grilagem histórica e conta com o vasto aparato policial para a defesa de seus impérios.
Do outro lado estão as comunidades tradicionais de fundo de pasto, os camponeses e uma grande massa populacional de sem-terra que sobrevivem num estado de miséria revelado pelos seguintes Índices: IDH de 0,29 a 0,35; esperança de vida ao nascer entre 52 a 56 anos e coeficiente de mortalidade infantil entre 71 a 90 por mil nascidos, 81 a 90% da população com renda insuficiente e 41% de taxa de analfabetismo.
O INCRA, por sua vez, no ano de 2008, não implantou nenhum projeto de assentamento de reforma agrária no município, assim como não vistoriou nenhuma das grandes propriedades improdutivas locais. Também a Coordenação de Desenvolvimento Agrário da Bahia (CDA), neste mesmo ano, não regularizou nenhuma área de fundo de pasto, da mesma sorte que não concluiu nenhum procedimento discriminatório de terras devolutas, omissão, descompromisso que tem identificado conflitos agrários.
O Judiciário, noutra senda, não registra nenhuma condenação recente aos autores dos crimes cometidos contra os/as trabalhadores/as rurais na comarca, mas a despeito disto busca incessantemente criminalizar os movimentos sociais de luta por terra, água e direitos. Até hoje, espera-se que se faça justiça aos homicídios de Romildo e José de Juriti
Diante deste cenário e em defesa da visa, clamamos para que as mortes de Tiago, Luis e Josimar sejam investigas e seus responsáveis sejam punidos, e que pela honra do sangue por eles derramado a terra seja dividida e que todos/as tenham terra, porque esse é o caminho da paz no campo.
CPT – Comissão Pastoral da Terra, Diocese de Bonfim/BA