Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A crise financeira global pode efetivamente levar os países ricos a abrir mão de suas metas para reduzir os gases causadores do efeito estufa. É o caso da União Européia, que já começa a usar a desculpa da crise para evitar um plano mais arrojado de corte das emissões de CO2, no longo prazo.

A UE já tem metas rígidas de redução da poluição: o plano é cortar 20% dos gases de efeito estufa até 2020, e ainda converter a matriz energética para 20% de fontes renováveis (solar, eólica, geotérmica) no mesmo horizonte de tempo.

Uma reportagem investigativa do jornal inglês The Guardian teve acesso a documentos do Conselho da UE, que se reunirá na semana que vem, que acenam que a crise não permitirá que o continente adote metas mais severas, em um futuro acordo global para redução da poluição. A proposta inicial era de que, em um compromisso mundial sobre clima, a EU sairia na frente e adotaria metas de 30% de redução de poluentes.

Um estudo do banco holandês Rabobank apontou que o setor de energias renováveis pode acumular uma dívida de 21 bilhões de euros por ano no processo de expansão de sua produção na Europa. Sem crédito na praça, muitos desses projetos correriam o risco de serem abandonados. O levantamento feito pelos economistas do Rabobank indica que, até 2020, a Europa fará investimentos de 85 bilhões de euros no setor de energias limpas. Mas com a quebra de bancos como o Lehman Brothers e intervenções importantes nos bancos europeus pelos governos, a previsão é de que haverá escassez de financiamentos.

Água fria

Assim, a crise financeira, que já começa a paralisar a economia dos países ricos, pode jogar um balde de água fria no esforço para evitar os danos causados pela mudança climática. Assim, em vez de reduzir a poluição internamente, os países estariam livres para compensar essas emissões comprando créditos de carbono de países como Brasil, China e Índia.

Até seria uma boa oportunidade de negócio para nós. O problema é que a crise global de crédito pode vir a refrear investimentos nesse campo. Isso porque é justamente o crédito para empresas que já dá sinais de escassez.

A questão que muitos especialistas colocam é: sem acordo para o clima, os efeitos do aquecimento global tendem a tomar uma dimensão ainda maior no longo prazo, com efeitos também devastadores para a economia das nações. Após o crack financeiro global teremos um crack causado pela mudança climática?

 

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