Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Na Paraíba, cinco mil mulheres ocuparam as ruas do município de Montadas durante a 14ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, realizada no dia 16 de março.

As camponesas paraibanas gritaram em alto e bom som o tema deste ano: “Território agroecológico não é lugar de usinas eólicas ou solares” e com esse grito denunciaram os danos causados pelo modelo concentrado da produção de energias renováveis.

A CPT esteve presente na atividade, que marcou o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas.

“Queremos energias renováveis? Sim. Queremos a descarbonização do planeta? Sim. Mas, não queremos que as soluções para o desastre climático, destruam a Caatinga, os territórios e modos de vida de milhares de camponesas e camponeses que vivem e convivem com o semiárido”, explicou as equipes da CPT Campina Grande e Guarabira.

Evidenciando o sofrer das famílias que vivem próximas aos grandes empreendimentos, a Pastoral escutou a fala de Roselma, da comunidade Sobradinho em Caetês (PE). Junto com ela estavam Gleice, Quelaine, e Núbia – todas mulheres que estão convivendo com o tormento dos aerogeradores há oito anos.

“Quando as empresas chegaram, a gente pensou que seria bom para gente. Mas não tem dinheiro no mundo que pague e devolva o nosso sossego. Estou falando em nome de 60 famílias de nossa comunidade”, disse Roselma.

O relato, que emocionou o público, alertou as mulheres presentes sobre a necessidade de seguirem lutando pelo seu território: “O que tenho a dizer a vocês aqui é que pensem bem. Nós não assinamos o contrato, mas também somos prejudicadas”, concluiu Roselma.

A camponesa lembrou, ainda, que as cisternas foram uma conquista importante, pois as mulheres tinham que caminhar de 2 a 3 Km para buscar água, mas, hoje as hélices soltam um pó que tem contaminado tanto as águas das cisternas, quanto os barreiros, o solo e o alimento.

O depoimento mostra que para a produção e distribuição de energia ser verdadeiramente limpa também precisa ser justa.

Evidenciar os danos do modelo industrial nessa produção tem sido uma luta da equipe da CPT de Campina Grande desde 2018 quando lançou a Campanha “Não Assine Sem Conhecer”. Essa campanha encontrou eco na Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que vem trazendo o tema “Território Agroecológico não é lugar de Parque Eólico” pelo segundo ano consecutivo.

“Enquanto o modelo industrial avançar sobre as terras e se apropriando dos territórios camponeses, vamos enxergando um rastro de destruição ambiental, perturbações emocionais e mentais que levarão, num futuro próximo, as famílias camponesas a um empobrecimento, pois já não mais podem viver e produzir nas suas terras, afetando também a sucessão rural”, afirmou a equipe.

Escutar as pessoas afetadas é fundamental no contexto em que pouco se fala a respeito dos impactos dos grandes empreendimentos nas zonas rurais e urbanas. Geralmente, a população em geral conhece apenas o que tem sido propagandeado pelas empresas. Contudo, a depender da distância dos aerogeradores, todos serão afetados.

Quando se fala dos grandes empreendimentos, não se expõe, por exemplo, sobre a redução expressiva da vegetação nativa, a migração dos animais silvestres e o desaparecimento das aves. Conta-se menos ainda sobre os problemas causados pelos infrassons, que podem atingir até 15 Km, provocando as chamadas “doenças vibro acústicas”.

Assim sendo, enquanto a produção de energia a partir dos ventos e do sol for centralizada no modelo industrial, permanece a destruição da natureza e dos próprios seres humanos que nela e dela vivem.

Para além da contradição, o que se apresenta para a sociedade são soluções voltadas para mitigar os efeitos do clima, com foco apenas na atração de investimentos. A desinformação faz com que muitas pessoas sejam convencidas pelos discursos de quem lucra com o modelo predatório vestido de renovável.

A marcha levou para as ruas informações sobre danos, contratos e vários prejuízos à terra e as filhas e filhos da Terra. Combater a desinformação, evidenciar o contraditório em defesa da agricultura camponesa, da agroecologia e da convivência com o semiárido é um dos objetivos da CPT, quando articula vários atores e atrizes em torno do tema, e do Movimento das Mulheres do Polo da Borborema, com a marcha.

Tal objetivo foi evidenciado na fala de Ana Paula Candido, do sindicato de Queimadas: “O que queremos aqui é dizer para a sociedade e para os políticos que a energia que nos interessa é a energia descentralizada. Essa, sim, vem para contribuir com a economia das vidas das famílias agricultoras e do município”.

A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia também é lugar de celebrar as vidas que se encontram em busca de um mundo mais justo. Assim, ao final, as mulheres dançaram e cantaram com Lia de Itamaracá e as filhas de Baracho, as cirandas que não são de “um só”, mas de todas e todos nós que sonhamos com um mundo melhor.

 

 

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