Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Uma missão da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas e Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do estado de Pernambuco (Fetape) reuniu agentes pastorais, voluntários e sindicalistas dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte e pesquisadores das universidades estadual e federal de Pernambuco para visitar comunidades camponesas afetadas pelas grandes usinas eólicas.

As comunidades de Pau Ferro e Pontuais, ambas situadas no município de Caetés/PE, foram as primeiras a receber a missão pela manhã da última terça-feira, 28 de março.

Em Pau Ferro, o agricultor José relatou como sua vida se tornou um tormento após a chegada do empreendimento. “Antes era uma tranquilidade. A gente anoitecia e amanhecia em paz com a natureza. Hoje o barulho é tão grande que nunca sai do ouvido. E cada dia está piorando. É tanto problema que dá um livro para escrever”, disse José.

O depoimento do agricultor Simão reflete os danos ambientais causados pelos enormes ventiladores: “Antes do parque até às plantas cresciam mais rápido. Hoje elas estão paradas. As plantas que já estão grandes muitas não estão dando mais frutos”. Ele completou: “Disseram que ia ser tão bonita que o pessoal ia viver até de turismo”.

O preço da energia elétrica também não melhorou, ao contrário, como disse José: “Estamos morando dentro de um parque eólico. E a nossa energia nunca foi tão cara”.

No período da tarde, a missão seguiu para a comunidade de Sobradinho. Lá, ficou evidente o quanto o modelo centralizado de energia renovável tem prejudicado o bem viver das famílias.

Acácio e Edna relataram que precisam tomar remédio para conseguir dormir, mas, apesar disso, ainda têm dificuldade. “Foi bom aqui. Foi bom e não presta mais. Eu só durmo através de clonazepam”, falou Acácio. “Nossa vida aqui era um sossego. Hoje tomo quatro remédios para dormir. Mas não faz efeito”, disse Edna.

A camponesa também falou sobre os prejuízos na produção de alimentos e a desmotivação de continuar na terra. “Se você planta um milho, não dá mais. Se planta feijão, não dá mais. Até os animais estranham. Quando eu saí daqui eu vou sair muito triste, porque não vou conseguir realizar meus sonhos aqui. Imagina você morar em um lugar e não conseguir realizar seus sonhos? Não é triste?”.

Ainda em Sobradinho, a CPT e os pesquisadores visitaram dona Alzira. A camponesa de 79 anos está com uma intoxicação grave em todo o corpo decorrente do pó que é liberado pela usina eólica. Sua pele está descamando, assim como de outras pessoas da comunidade.

A missão antecedeu o lançamento do documentário Vento Agreste nesta quarta-feira, 29 de março, às 8h, no Auditório Professor Clóvis da Silva Junior – UPE, Campus Garanhuns. O filme tem como objetivo evidenciar os danos causados por grandes usinas eólicas às comunidades camponesas do agreste de Pernambuco e apoiar a luta em defesa dos seus territórios e pela reparação dos direitos violados.

Em breve, Vento Agreste estará disponível canal do Youtube da CPT Nordeste 2: /cptnordeste2

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Imagens: Ana Flávia Fernandes

 

 

 

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