Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

“Uma vida pela vida”. Este é o lema adotado por Dom Luiz Flávio Cappio, o bispo da Barra no Estado da Bahia, em seu jejum e oração pela vida do Rio São Francisco e do povo ribeirinho. O gesto extremo de amor de Dom Luiz tem favorecido muitos debates nas famílias, nas igrejas, nos parlamentos, nas redações, dentro e fora do Brasil.

Estive em Sobradinho, nos dias 13 e 14, na vila São Francisco de Assis. No terreiro da capela conversei, brevemente, com Dom Luiz e transmiti em nome do Conselho Regional da Comissão Pastoral da Terra do Nordeste 2 (Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) apoio e solidariedade.

Encontrei um homem sereno, lúcido e firme na fé. Abatido pelos dias sem se alimentar, tomando água, rezando e conversando com os populares e personalidades, a exemplo da atriz e militante Letícia Sabatella, do senador Eduardo Suplicy, da ex-senadora Heloísa Helena e de dona “Dorinha” uma senhora de 76 anos que todos os dias, na parte da manhã e da tarde, vai ao terreiro da igreja de São Francisco e reza com Dom Luiz. Ela é quem coordena a oração. Dona Dorinha encanta a todos com sua crença e acolhimento, ao passar o dia rezando por Dom Luiz e xingando o outro Luiz, o presidente.

Dom Luiz Cappio transmitiu segurança e convicção que o jejum e a oração são capazes de modificar o curso do projeto de transposição apresentado pelo governo e questionado por ambientalistas, cientistas e curiosos. A radicalidade do bispo é prática dos profetas e esperança do rio e dos ribeirinhos.

Após a breve conversa fiquei refletindo em que o PT e o presidente Lula se transformaram, fiquei pensando quantos dias da minha vida dediquei à construção deste partido e deste governo. Logo veio a mente o esforço que o governo fez pra salvar a vida política do senador Renan Calheiros, maculando a sua história e de pessoas como o senador Mercadante. Como retorno da batalha pra salvar Renan, veio a primeira grande derrota: a da CPMF. Fiquei pensando será que o mandato de Renan vale mais que os 2.800 km do rio São Francisco? Será que vale mais que a vida de um homem sério, de fé, que escolheu como modelo de vida o santo Francisco de Assis? Por pouco tempo fiz coro com dona Dorinha e xinguei o presidente Lula e sua idéia fixa de transpor a água do rio.

O frei não é contra levar água para o povo pobre do sertão. Dom Luiz defende as alternativas apontadas pela Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA) de convivência com a região e aposta nos estudos realizados pela Agência Nacional de Águas (ANA), órgão do governo federal, que diz que, com 3,6 bilhões de reais, metade do recurso que será utilizado na transposição, beneficiaria dez estados (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Maranhão, Piauí e Minas Gerais) e 34 milhões de pessoas contra os quatro estados (Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco) e 12 milhões de pessoas do projeto de transposição.

O estudo da ANA, intitulado Atlas do nordeste (www.parnaiba.ana.gov.br/atlas_nordeste), trouxe à superfície a verdadeira intenção do governo Lula de beneficiar as empreiteiras, o agro-hidro negócio, tendo como discurso levar água para os sedentos. Os números do projeto de transposição são claros, como no passado foram as águas do velho Chico, que é favorecer aos grandes: 70% para irrigação, 26% para indústria e 4% para população rural (www.mi.gov.br).

O apelo de Dom Luiz é no sentido de suspender a obra, que faz parte do calendário da indústria da seca, revitalizar o rio e retomar o diálogo ouvindo o povo ribeirinho e tendo como contra argumento o Atlas do nordeste.

Vamos salvar o rio e o frei. São Francisco Vivo: terra, água, rio e povo!

Por Carlos Lima, historiador e coordenador da CPT de Alagoas

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Rua Esperanto, 490, Ilha do Leite, CEP: 50070-390 – RECIFE – PE

Fone: (81) 3231-4445 E-mail: cpt@cptne2.org.br