Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Às margens do Rio São Francisco, distante 20 km da cidade de Orocó, sertão de Pernambuco, está localizado o território quilombola Águas do Velho Chico, composto pelas comunidades Umburana, Viturino, Caatinguinha, Remanso e Mata de São José. Ao todo são 420 famílias quilombolas que possuem fortes laços com o Rio São Francisco - fundamental para a constituição da identidade e território das comunidades. Foram estas comunidades que, durante os dias 27 e 29 de janeiro, acolheram o premiado autor pernambucano Irandhir Santos para uma vivência à beira do Rio. O ator integrará o elenco da nova novela da Globo “Velho Chico”, que vai ao ar a partir de março de 2016 e terá como temática a vida do Rio São Francisco.

 

Durante este período, Irandhir Santos vivenciou o cotidiano e a realidade das comunidades, que partilharam com o autor as principais causas ribeirinhas da atualidade, além de suas histórias e lendas, como o conhecido Negro D’água. O território Águas do Velho Chico está localizado em uma área que integra a chamada RIDE - Região Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina e Juazeiro. O autor também escutou os relatos sobre os impactos sofridos no Rio São Francisco que foram provocados primeiramente pela Barragem de Sobradinho, construída na década de 70, e mais recentemente pelas obras da transposição do Rio São Francisco, conhecida de perto por Irandhir. Recai ainda sob as comunidades a ameaça de verem seus territórios desaparecerem completamente com o possível projeto de construção das barragens de Pedra Branca e Riacho Seco.

É neste cenário de desenvolvimento e de avanço do capital que as centenas de famílias quilombolas resistem em seus territórios, cultivando seus modos de vida tradicionais, sua relação de respeito e conhecimento profundo e íntimo com o Rio São Francisco. As famílias estão dispostas a enfrentar quaisquer empreendimentos ou Projetos de desenvolvimento que ameassem a sua existência. “Ser quilombola é descobrir sua identidade, suas raízes, é saber que as pessoas que passaram pelo seu sangue lutaram pela vida e pela liberdade. É um orgulho muito grande e não queremos perdê-lo, queremos conquistá-lo” afirma Maria Senhora, quilombola da Mata de São José.

“Não tem riqueza nem dinheiro nenhum que pague o que nós vivemos aqui. Aqui é onde mora a nossa identidade, a identidade de muitas pessoas que não conhecemos, mas que nos deixaram tudo isso aqui pra gente. Sem falar do Rio São Francisco, beleza dada por Deus. Não tem preço que pague essa água que nos banha, banha nossa terra e agricultura. Se um dia a gente sair daqui, vai ser com os olhos cheios de lágrima”, afirmou uma das moradoras da comunidade Remanso.

A luta pela permanência das comunidades na beira do Rio São Francisco

Empenhados em garantir a permanência e existência das comunidades, os moradores e moradoras estão em processo de luta pelo reconhecimento e demarcação de seu território. Há cerca de oito anos, as famílias conquistaram a primeira batalha: foram reconhecidas e certificadas enquanto comunidades quilombolas pela Fundação Cultural Palmares. Em 2012, deu-se início a elaboração do laudo antropológico, um dos passos necessários para a titulação dos territórios da comunidade. Atualmente, o processo encontra-se paralisado no Incra, mas para as famílias que ali vivem, a demarcação e o reconhecimento de seus territórios pelo Estado não é o condicionante para que as famílias permaneçam existindo no lugar que lhes pertence.

 

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