Numa carta comovente, os moradores de Carvalho contam que a obra da Transposição do Rio São Francisco vai destruir um antigo patrimônio quilombola: uma pequena Igreja que foi construída pelos escravos libertos que ali se instalaram.
Localizada há 10 km do centro de Custódia, sede do município, Carvalho já conseguiu o reconhecimento como Comunidade Quilombola pela Fundação Cultural Palmares, desde 16 de maio de 2007, conforme publicado no Diário Oficial da União. O reconhecimento, no entanto, não foi seguido do processo de demarcação e titulação do território.
O atraso na demarcação e titulação da terra é mais um empecilho para a permanência da Igreja. “A capelinha não é propriedade da Igreja, é particular e pertence ao proprietário da fazenda”, explica o padre Roberto, pároco de Custódia. O antigo proprietário das terras já foi indenizado, mas a comunidade resiste e propõe que o curso das obras seja desviado para impedir a destruição da igreja e da escola.
Dona Cícera, moradora antiga da comunidade, conta com remorso a situação. Ela diz que seus netos estudam naquela escola. “Tem gente que quer que derrube, mas que construa primeiro outra igreja e outra escola. Tem gente que quer que não derrube de jeito nenhum. Edvaldo (presidente da Associação) é um dos que correm para que as coisas aconteçam da maneira certa”, explica.
Preços inflacionados
Os lotes 03 e 04 do trecho de 133 km da Transnordestina, que ligará Serra Talhada a Arcoverde, está previsto para ser entregue em dezembro de 2011. Além do descontentamento causado no povoado de Custódia, outros transtornos começam a ser causados na localidade. Quem for visitar a região terá dificuldades para hospedagem. A empreiteira Odebrecht tem locado todos os hotéis de Serra Talhada. Empresas responsáveis pelas obras da Transnordestina e da Transposição também têm locado outros hotéis da região. A super-lotação dos lugares de hospedagem tem inflacionado o preço das diárias.
Fonte: Comissão Pastoral da Terra – Pajeú – Denis Venceslau e Articulação São Francisco Vivo.