Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

O projeto para a produção de mamona em Araranguá, para ser utilizada na fabricação de biodiesel, não deu certo. Pelo menos na primeira tentativa. O piloto implantado em 2006 pretendia ser uma alternativa de renda para os agricultores familiares do município, especialmente para os fumicultores, mas acabou gerando insatisfação por parte dos produtores, que receberam 40% a menos que o esperado na hora de entregar a produção, e demoraram meses para receber.

sexta, 11 julho 2008 . A Tribuna   
O imbróglio começou, segundo Christianne Belinzoni de Carvalho, engenheira agrônoma do Projeto Microbacias 2, da Epagri de Araranguá, quando os agricultores fecharam a venda da produção com a Vinema Óleos Vegetais, empresa de Camaquã, no Rio Grande do Sul, com 26 anos de trabalho. O contrato previa a compra de toda a produção, a R$ 0,50 o quilo da semente, segundo Christianne. "Em princípio iríamos comercializar em Camaquã, mas na hora de comprar nossa produção a empresa não cumpriu o contrato de compra e venda que tínhamos com eles e foi então que a Brasil Ecodiesel se interessou pelo nosso produto", afirma.

Acordo fechado com a Brasil Ecodiesel, empresa do Rio de Janeiro considerada pioneira na fabricação de biodiesel em escala comercial no País, os agricultores esperavam que a produção de pouco mais de 4,2 mil quilos fosse comprada por R$ 0,75 o quilo com casca, com um prazo de pagamento de cinco dias. A surpresa, segundo Christianne, se deu na hora em que os agricultores viram a quantia depositada no banco, depois de três meses da venda. "Pagaram R$ 0,46 o quilo, descontando 40% da casca sem nós sabermos de nada. Essa situação gerou descrédito da parte dos agricultores pelo projeto, que não tiveram um prejuízo maior porque plantaram uma área pequena", conta a engenheira agrônoma.

Cerca de 50 agricultores compraram as sementes, mas somente 14 deles colheram. Alguns preferiram plantar apenas para recuperar o solo, outros para adubação e alguns para ver como a planta se comportava no terreno. Segundo Christianne, a expectativa de produção era boa, mas com a botrite (doença que afeta os cachos), algumas lavouras não renderam tanto quanto poderiam. Em condições normais, o rendimento da mamona fica entre dois mil e três mil quilos por hectare. Nas quatro microbacias de Araranguá, os agricultores plantaram de meio hectare e um hectare, colhendo de 55 quilos a 1,6 mil quilos.

Com a situação, os agricultores familiares optaram por não plantar mais a mamona por enquanto. As áreas com a planta foram lavradas para aproveitar a oleaginosa como adubação verde. O trabalho com a mamona continua, mas apenas no âmbito de pesquisa na Epagri em Jaguaruna, onde quatro tipos da planta estão sendo estudados. O estudo da semente que mais se adaptaria à região toma como base a tendência de crescimento na utilização dos biocombustíveis, e um provável retorno do cultivo na região.

Empresas dizem que houve um mal-entendido
Segundo Vilson Neumann Machado, proprietário da Vinema Óleos Vegetais, foi fechado um contrato com os produtores de Araranguá sim, mas a plantação foi feita em caráter experimental, sem fins comerciais. E como a produtividade foi baixa, o valor que a empresa gastaria para buscar a produção em outro Estado inviabilizaria o negócio. Machado afirma que, em casos de pouca produção, os agricultores podem estocar as sementes por até quatro anos sem prejudicar a qualidade. Ele afirma que os agricultores adquiriram semente para plantar 100 hectares, o que corresponderia a uma produção muito maior do que a que foi apresentada à empresa. Além disso, os agricultores teriam preferido comercializar com a Brasil Ecodiesel. "Quando as pessoas querem vender para outra empresa, ficamos quietos", diz.

Para Eduardo Scavassa, gerente da área técnica da Brasil Ecodiesel, a acusação de que a empresa teria descontado irregularmente 40% do valor pago aos agricultores, referente à casca do produto, não procede. "Todo o grão que se compra, deve ser limpo e seco. Em média, a casca corresponde a 40% do volume e isso está explícito em contrato e é aprovado pelo Ministério da Agricultura, sindicatos, confederações", afirma Scavassa. Segundo ele, no caso dos agricultores de Araranguá, deve ter ocorrido um mal-entendido entre os produtores. "Esse é um projeto de geração de renda para o agricultor familiar, presente em mais de 300 municípios brasileiros e que é realizado sempre em conjunto com os sindicatos que representam os agricultores, até para os produtores ficarem mais tranqüilos", diz.

 

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