Os pequenos agricultores da Chapada do Apodi conseguiram ontem uma vitória no Ministério da Integração Nacional na luta contra o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), sobre como aproveitar a água da Barragem de Santa Cruz, em Apodi. O Dnocs propõe transpor as águas para uma região da chapada e os agricultores defendem que a água da barragem seja usada para fomentar a agricultura familiar.
A reunião foi realizada no gabinete do ministro Fernando Bezerra, da Integração Nacional, ao meio-dia de ontem, com a presença da governadora Rosalba Ciarlini, do senador/ministro Garibaldi Alves, da deputada federal Fátima Bezerra, deputado estadual Fernando Mineiro, e uma comitiva de agricultores do município de Apodi e também da região do Vale do Jaguaribe. Também participou da audiência o presidente do Dnocs, o ex-deputado federal Elias Fernandes.
Os primeiros debates foram vencidos pelos grandes produtores que fortalecem a ideia da agroindústria em território do Rio Grande do Norte e do Ceará. O Dnocs já estava trabalhando (realizando audiências públicas) para desapropriar uma área de 14 mil hectares na chapada do Apodi e investir um valor aproximado a R$ 280 milhões na instalação de um sistema adutor e a instalação da estrutura de alvenaria na região da Chapada do Apodi para assentar 351 agricultores.
Entretanto, o projeto de criação do Distrito Irrigado da Chapada do Apodi não recebeu o aval dos produtores da região. Alegam vários motivos. O primeiro foi exposto pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi, Edilson Neto. "O Dnocs está querendo fazer o inverno da reforma agrária. É que esta área que está para ser desapropriada pertence a centenas de pequenos produtores rurais e depois seria para grandes produtores", explica Edilson Neto.
O segundo problema foi exposto pela engenheira florestal, mestre em Meio Ambiente e doutora em Agricultura Tropical, Verlândia Morais. Segundo ela, esse tipo de distrito irrigado proposto pelo Dnocs para a Chapada do Apodi tem vários fracassados pelo Nordeste. Exemplos não faltam. Verlândia observa o alto custo de manutenção do sistema adutor (energia) e também da estrutura de distribuição de água dentro do distrito irrigado.
De forma mais incisiva, a doutora Raquel Rigotto, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, declarou que a grande quantidade de agrotóxico usada pelo agronegócio está causando uma série de doenças crônicas na população rural, alem de prejuízos evidentes à economia das famílias. Assim como os demais, Rigotto orienta a necessidade de mais investimentos na agricultura familiar.
Segundo Procópio Lucena, coordenador da Articulação do Semi Árido (ASA), o caminho correto para aproveitar o potencial hídrico da barragem de Santa Cruz, assim também como da Barragem de Umari, é investir na agricultura familiar. No caso de Apodi, o melhor é fazer o sistema adutor para irrigar a região de várzea nos períodos de estiagem por gravidade. Ao menos é isto que os pequenos produtores querem e estão dispostos a ir às ruas por isto.
Todas as questões foram expostas ao ministro Fernando Bezerra ontem pelos representantes legais dos trabalhadores da região de Apodi e também do Vale do Jaguaribe. O presidente do Dnocs, Elias Fernandes, assistiu a tudo. Em alguns momentos ainda tentou sustentar a sua tese de que o melhor é investir no agronegócio na Chapada do Apodi, mas seus argumentos apresentaram-se fracos diante da quantidade e a qualidade técnica versado no sentido contrário.
Fonte: Jornal de Fato - RN