Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A imagem mostra o agricultor Geovane da Silva Santos, presidente da associação de moradores/as da comunidade do Engenho Roncadorzinho, em Barreiros-PE, ajoelhado e clamando por justiça e vida digna no campo. Esse foi um dos momentos mais fortes ocorridos durante o lançamento estadual do Caderno Conflitos no Campo Brasil 2022, realizado em 24 de julho, no auditório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Incra, no Recife. Naquele momento, agricultores e agricultoras de diversas comunidades que enfrentam conflitos agrários no estado fizeram vários relatos que denunciam o cenário de violações de direitos, violência e ausência do estado para combater o martírio e a expulsão no campo. E diante de uma plenária lotada, o agricultor Geovane se ajoelhou para pedir justiça, terra, moradia e o fim da violência no campo.

Equipe Mata Sul de Pernambuco

O gesto simbólico representa bem a indignação e a tristeza de Seu Geovane, dos mais de 200 camponeses e camponesas que ocuparam o auditório do Incra naquele dia e de tantas outras famílias espalhadas pelo estado de Pernambuco e pelo Brasil. São quase um milhão de pessoas no país e mais de 31 mil pessoas em Pernambuco que comungam da mesma realidade e do mesmo sonho de justiça, dignidade e terra para quem nela vive e trabalha. 

Seu Geovane é pai de Jonathas Oliveira, menino de nove anos cruelmente assassinado há exatos um ano e seis meses, no dia 10 de fevereiro de 2022. As mobilizações e protestos contra o assassinato do garoto levaram o Governo de Pernambuco, ainda em 2022, a reconhecer a gravidade dos conflitos agrários que afligem comunidades posseiras situadas na Zona da Mata e a decretar a desapropriação das terras do Engenho onde vivem as mais de setenta famílias que formam a comunidade de Roncadorzinho. 

O alívio diante da dor e da violência não durou muito. O juízo do processo de falência da Usina Santo André passou por cima do Decreto do Poder Executivo e sentenciou pela impossibilidade de desapropriação do imóvel pelo Poder Público,  fazendo com que a dor e a angustia voltassem à comunidade. Para piorar o quadro, famílias da comunidade tiveram suas casas destruídas parcialmente com as fortes chuvas que atingiram o estado de Pernambuco durante os meses de junho e julho. Cerca de 99% das casas da comunidade são feitas de taipa. Três delas já foram condenadas pela Defesa Civil do Município de Barreiros. Uma dessas famílias, com nove crianças, está provisoriamente na escola da comunidade. 

O agricultor Geovane, diante do sofrimento do assassinato do filho, da possibilidade de despejo enfrentada por sua comunidade, das casas de taipa vulneráveis, não suportou a dor e se ajoelhou para rogar aos poderes que olhem para quem luta pela terra. Foi o grito de sofrimento dos nascidos e criados nesse torrão de terra e que rogam a Deus por ajuda. Todos e todas que estavam naquele auditório no dia 24 de julho puderam ouvir e sentir a dor de quem clama e de quem faz de sua revolta a luta por justiça, terra e moradia. 

A pergunta não cala:  por que as elites querem o pouco que os pequenos têm para sobreviver? Que justiça será feita? Será que o Reino de Deus começará para essas famílias da comunidade de Roncadorzinho? Essas perguntas provocam ainda mais dor porque quem tem o poder de dar respostas se cala diante desses clamores. Ajoelhar foi o único gesto possível, não de fraqueza, mas de fé, que o agricultor Geovane da Silva encontrou para chamar atenção das autoridades que poderiam contribuir para uma vida digna no campo. “Quem tem ouvidos, ouça” (Mt 11,15).

 

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