Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Fortalecer a luta da juventude pela agricultura camponesa no estado de Pernambuco. Este é um dos objetivos do curso de formação "Juventude Camponesa: agroecologia e educomunicação", em que participam 46 jovens camponeses de áreas de conflitos agrários, assentamentos e comunidades quilombolas, que estão localizadas da zona da mata ao sertão do estado.

 

O curso, iniciado em janeiro, funciona através da pedagogia da alternância. Durante os períodos em que estão todos reunidos nos chamados módulos do Tempo Escola, os jovens dedicam-se ao estudo sobre o contexto agrário e as formas de resistência dos povos do campo. Os/as participantes debatem sobre a história das lutas camponesas no Brasil, o conceito de campesinato, de território, a atualidade da questão agrária no país, o modo de produção camponês, agroecologia e modo de produção capitalista. Até o momento, já foram realizados três Tempos Escolas. Outros três deverão acontecer até o termino do curso, previsto para outubro de 2016.

 

Outro objetivo do curso é utilizar os meios de comunicação como ferramentas para o aprendizado das temáticas, mas também para dar visibilidade ao modo de produção camponês e denunciar os crimes praticados contra as populações em seus territórios. Mariana Silva, 19 anos, da comunidade Barra do Dia, em Palmares, reconhece que o modo de vida camponês não aparece nos meios de comunicação. "A mídia não retrata a verdade do campo. Não trata com respeito as comunidades. Somos esquecidos. Não temos voz na mídia".

 

A quilombola Cintia Mendes, 26 anos, da comunidade de Castainho, localizada no Agreste, concorda com Mariana e acrescenta que os povos do campo, quando aparecem na imprensa, estão frequentemente sob a ótica da criminalização. "A mídia não mostra a nossa realidade. Ela camufla. São muitos os conflitos e violência que as comunidades enfrentam, mas a mídia não mostra o nosso lado. De tudo o que puder falar mal, ela vai falar do povo do campo. E nós somos capazes de divulgar nossa realidade."

 

As jovens acreditam que podem utilizar os meios de comunicação que lhes são disponíveis para divulgar a realidade das comunidades. Várias ferramentas de comunicação já são utilizadas pelos jovens do campo. Então, a proposta do curso ao abordar a temática da educomunicação é refletir sobre a intencionalidade do uso de cada ferramenta e com isso, fortalecer o modo de produção e vida do campo, além de estimular o protagonismo da juventude na luta por direitos.

 

O curso é realizado pela CPT e Universidade Federal de Pernambuco, através do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Espaço Agrário e Campesinato (Lepec) e conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq) e do Pronera/Incra. Para Anderson Camargo, geógrafo e um dos coordenadores do curso, projetos como este aproximam a Universidade de um papel transformador. "O espaço educativo construído com os movimento sociais coloca em debate as questões da juventude camponesa que vivem em áreas de conflitos, as suas vozes e suas vivências", afirma.

 

Anderson ressalta que espaços como esse são estratégicos para a afirmação da juventude do campo e para a permanência ativa do jovem como sujeitos políticos que se envolvem com os trabalhos e a luta em suas comunidades. "Assim, o curso percorre por caminhos pouco trilhados pelas universidades, no interior das comunidades promovendo diálogo de saberes e as experiências das lutas que afirmam as comunidades camponesas de pernambuco", complementa.

 

 

Fonte: CPT NE 2

 

Durante o tempo em que estão nas comunidades, os jovens realizam diversas atividades de estudos e leituras. Mas não somente isso. Os jovens organizam diversos encontros de intercâmbios, troca de experiências entre comunidades, reuniões de debates e formação, além de atividades que fortalecem a organização da juventude e da comunidade. Desde que o curso foi inciado, vários jovens passaram a se organizar em grupos no intuito de fortalecer as práticas de produção camponesa desenvolvidas pelas comunidades. Para os agentes pastorais de CPT que acompanham as atividades, este é um dos fatores mais importantes do processo. É quando a juventude camponesa assume o papel de protagonista na organização não somente de grupos de jovens, mas também da comunidade inteira. Quando tomam para si a responsabilidade de transformar a realidade de conflitos junto com os demais membros da comunidade. "Depois que entramos no curso, estamos mais animados, formando grupos de jovens, participando das reuniões das associações e querendo conhecer mais sobre a história da luta das famílias. Estamos mais interessados nas lutas de nossas comunidades e na busca de direitos", afirma Mariana.

 

 

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