Sobre o chão*
Sobre o chão:
Telhas, tijolos e portas;
casas, vidas e esperanças;
sonhos, cultura e um povo;
homens, mulheres e crianças
Sobre o chão:
Agora a água por vir;
o sol inclemente que queima;
a chuva que cai sem amparo;
a família ainda que teima
Sobre o chão:
Cacos de vidas jogados;
cenário de guerra que fica;
sonhos pisoteados na lama;
uma vida que se petrifica
Sobre o chão:
Ainda há vozes dos expulsos,
marcadas em cada casa caída,
em cada sonho roubado,
na vida que foi traída
Sobre o chão:
As veias abertas de um povo
de uma caminhada que não se encerra,
seu sangue pulsando mais forte,
gritando justiça na terra.
Plácido Junior
*Durante os dias 14 e 15.12.2013, a convite da Escola Fé e Política fui acompanhar uma etapa de formação em Palmares. No primeiro dia fizemos uma visita à construção da Barragem Serro Azul. Fomos visitar as comunidades de Canário e Engenho Verde. Visitei estas comunidades em outros momentos pela CPT. Ao chegar no engenho Verde, onde moravam mais de 200 famílias, só encontramos casas destruídas e uma família que ainda teima em ficar ali. Na verdade encontramos três crianças, duas meninas e um menino, o mais velho que tinha 12 anos e estava cuidando das irmãs. O engenho Canário, onde viviam mais de 80 famílias, nem casa destruída vimos. Era terra arrasada. As famílias foram arrancadas dos seus lugares por causa da construção da barragem. Sobre o chão: casas destruídas, sonhos, vidas.
Imagens: Plácido Júnior