Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Cerca de 100 trabalhadores rurais, ligados ao MST e a CPT, realizaram ato de reocupação do Engenho Una, localizado no município de Moreno, região metropolitana do Recife. O ato aconteceu na tarde desta terça-feira, dia 19/11, horas depois do bloqueio da BR 232 realizado pelos trabalhadores, na altura do Parque Aquático de Moreno. Ao chegarem no Engenho, as famílias se depararam com funcionários da Usina Bulhões, proprietária do imóvel, destruindo três casas, além de parte da Casa Grande do Engenho, construida no século XIX. A destruição completa foi impedida pelos próprios trabalhadores que acreditam que a decisão desesperada de destruir a Casa Grande de sua própria Usina foi uma forma que a Bulhões encontrou para impedir, sem sucesso, a reocupação das famílias ao local. A Casa Grande estava sendo ocupada pelos trabalhadores rurais desde o último dia 01 de setembro até a última segunda-feira, dia 18/11, quando foram despejados do local.

 

Após o ato de reocupação, os trabalhadores rurais seguiram para participar de uma audiência com representantes da Casa Civil, em Recife. O órgão se comprometeu a averiguar a situação de conflito e destruição no Engenho Una no dia de hoje (20), no entanto, de acordo com os relatos dos moradores, nenhum representante do órgão esteve presente no Engenho. As famílias de sitiantes do Engenho Una relataram à Comissão Pastoral da Terra que capangas fortemente armados rondaram as extensões do Engenho Una durante o dia de ontem. Os moradores também relatam que, após a destruição de parte da Casa Grande e das outras casas que estavam sendo ocupadas por sem terras, o clima de tensão no Engenho aumentou ainda mais.

 

As famílias temem que após estes últimos episódios, as ameaças e atos de intimidações, que já foram diversas vezes denunciadas aos órgãos governamentais, voltem a ser feitas pela administração da Usina. As famílias de moradores, o MST e a CPT esperam que o Governo do Estado, conforme já negociado em Audiências, atue imediatamente para garantir a desapropriação das Terras do Engenho Una e solucionar de vez a situação de conflito em que vivem as 35 famílias de sitiantes do Engenho.

 

 

 

Imagens: ACOSMUPA - Engenho Una

 

Conflito no Engenho Una

 

No Engenho Una moram cerca de 35 famílias de trabalhadores rurais, quase todas nascidas e criadas no local, que vivem sob ameaça de expulsão pela falida Usina Bulhões, proprietária do Engenho. A situação de conflito na área já foi alertada e é de conhecimento dos órgãos governamentais desde dezembro de 2011, quando os moradores, em conjunto com a CPT, reivindicaram do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a desapropriação do imóvel para fins de Reforma Agrária.

 

No entanto, foi a partir do início deste ano que o conflito se intensificou. De lá até agora, três lideranças do Engenho já sofreram ameaças, já foram realizadas denúncias de mílicas armadas que promoviam perseguições, intimidações até dentro de ônibus escolares, bloqueio das estradas, toques de recolher. Já foram realizadas diversas Audiências envolvendo os moradores e o Incra, MPPE, MPT, Iterpe, Secretaria de Direitos Humanos, bem como vários outros órgãos no âmbito Federal e estadual. Para os moradores, a intensificação da violência por parte da Usina é uma forma de expulsar os moradores do local e evitar a organização das famílias no processo de reivindicação do direito a Terra.

 

No último dia 01 de setembro, a Casa Grande do Engenho Una foi ocupada por trabalhadores rurais Sem Terra ligados ao MST. No dia 18 de novembro, cerca de 50 Policiais Militares e do Batalhão de Choque destruíram o acampamento existente no local, com cerca de 30 barracas de trabalhadores e trabalhadoras rurais. As famílias realizaram protesto contra o despejo, bloqueando a BR 232, na manhã do dia 19/11 e também realizaram ato de reocupação do Engenho no mesmo dia.

 

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