Foi realizado na tarde desta terça-feira, dia 22, no Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco, uma audiência sobre os Inquéritos Cívis Públicos insautarados pelo órgão sobre os processos de criação das Reservas Extrativistas no estado, a saber: nas ilhas de Sirinhaém e em Rio Formoso, ambas localizadas no litoral sul de Pernambuco. A audiência, convocada pela Procuradora da República, Dra. Silvia Regina Pontes Lopes, teve como objetivo discutir os principais entraves que hoje impedem a concretização das duas Reservas Extrativistas no estado.
Na ocasião, estiveram presentes cerca de 30 representantes das Associações e Colônias de Pescadores e pescadoras de Ipojuca, Barra de Sirinhaém, Rio Formoso, Tamandaré, moradores e moradoras dos locais, além de pesquisadores e pesquisadoras e das organizações sociais que acompanham os casos, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e o Instituto Recife costeiros (IRCOS).
No que diz respeito a criação da Reserva Extrativista em Sirinhaém, os representantes das Colônias e Associações de pescadores e pescadoras informaram que todas as etapas, estudos e procedimentos exigidos para a criação de uma Reserva já foram realizados e finalizados pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e IBAMA desde em 2009. Os detalhados diagnósticos e laudos ambientais, sociais e econômicos elaborados pelo ICMBio e IBAMA apontaram para a necessidade imediata da criação da Resex nas Ilhas, que são terras da União, mas estão aforadas à Usina Trapiche. No entanto, desde então o processo encontra-se paralisado, porque tem esbarrado em um conjunto de disputas e entraves políticos entre o Governo Federal e Estadual.Os pescadores complementaram ainda que a área em questão são territórios pesqueiros que garantem a segurança e soberania alimentar de mais de oito mil famílias da região que dependem diretamente do estuário e do mangue de Sirinhaém para tirar seus sustentos. No entanto, a área que antes servia como morada e era utilizada por pescadores tradicionais que faziam uso sustentável dos bens naturais para garantia de sua subsistência, hoje destina-se a sofrer impactos e degradação, decorrente da ação conjunta de vários fatores ligados ao modelo econômico da região, em particular, pela ação de degradação ambiental causada pela Usina Trapiche, como ressalta o próprio levantamento do ICMBio e as várias denúncias dos próprios pescadores que presenciam as violações e crimes ambientais.
No que diz respeito a Reserva Extrativista de Rio Formoso, os pescadores informaram que o processo também encontra-se paralisado. De acordo com Alberto Santos, do IRCOS, o pedido de criação da Resex no local vem desde 2009, mas até o momento nenhum passo foi dado para a realização dos primeiros estudos. De acordo com Severino Antônio, do Conselho Pastoral dos Pescadores, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) chegou a nomear uma equipe de técnicos para realização dos laudos (de acordo com o memorando de n. 082/2009/CR6/ICMBIO) no entanto, segundo informe do representante da CPP, os procedimentos também foram paralisados pelos interesses divergentes por parte do Governo Estadual.
Enquanto isso, as famílias das duas regiões sofrem os impactos dos empreendimentos que encontram-se no entorno de onde deveriam ser instaladas as Reservas. Segundo a pesquisadora da UFPE, Beatriz Mesquita, as áreas em questão são foco de uma intensa disputa territorial, pois ao mesmo tempo em que luta-se pela criação das Reservas Extrativistas, as áreas também são disputadas por interesses do monocultivo da cana-de-açúcar, pelo território estratégico de desenvolvimento de Suape e também, no caso de Rio Formoso, pela construção de uma rede hoteleira, cujo licenciamento já está em curso no CPRH.
Além desses argumentos, os pescadores também denunciaram outros fatores que vêm contribuindo para a destruição dos territórios pesqueiros tradicionais na região. “Estamos encurralados por todos os lados. Tem a Usina Trapiche e as outras usinas da região que derramam vinhoto nos Rios, temos Suape do outro lado, temos grandes empresas com viveiros de camarão que contaminam nossas águas, temos a Compesa que despeja desejos não tratados nos nossos Rios, temos o avanço de grandes empreendimentos turísticos. Por todos os lados estamos cercados. Estão acabando com os nossos territórios e nossa vida. Daqui a alguns anos não haverá mais pescador”, informou uma das participantes da audiência. “Enquanto o Estado demora em dar encaminhamento as criações das Reservas Extrativistas, as Usinas e os demais empreendimentos avançam na destruição do território tradicional de milhares de famílias que vivem e utilizam os bens naturais de forma sustentável, protegendo o meio ambiente. Com uma demora de mais de 5 anos para assinar apenas um decreto, o Governo já disse de que lado está, mas as famílias continuarão pressionando e denunciando aa conivência do Estado com as barbaridades que esses empreendimentos vem causando ao meio ambiente e a população local que vive da pesca tradicional”, completou uma das pescadoras presentes na reunião.
Ministério Público Federal investigará morosidade na criação de Reservas Extrativistas em Pernambuco
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