Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

No dia 08 de março, os desafios do desenvolvimento da agricultura familiar agroecológica no Território da Borborema e demais territórios da Paraíba diante dos grandes parques eólicos e solares foi o assunto de uma audiência pública no município de Montadas, na Paraíba.

A audiência foi iniciada com a exibição de um vídeo em que um agricultor relata que vivia em paz fazendo suas atividades rurais. Ele escutava o canto dos pássaros como coruja, bacurau e mãe da lua. Havia muitas árvores silvestres na área. Mas, a chegada das eólicas prejudicou a natureza. “As eólicas vieram para ficar e as pessoas que estão prejudicadas, como eu e minha família, têm que se mudar", lamentou.

Em sua fala, Leda Gertrudes, assessora técnica da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, destacou que um parque eólico parece bonito quando se vê de longe, mas é preciso conhecer de perto a realidade desses empreendimentos.

“A audiência é importante para que a sociedade tenha, de fato, conhecimento do que significa esse modelo de produção de energia que ora se instala no nosso território e no estado da Paraíba. A instalação desse modelo de grandes usinas para produção de energia por si só traz grandes desigualdades para a sociedade. Neste sentido, esses projetos atingem toda a população, seja da cidade, seja do campo. Afeta, em especial, a produção de alimentos, a vida dos agricultores, mas, sobretudo, das mulheres agricultoras”, avaliou Leda.

Vanúbia Martins iniciou sua reflexão a partir de trechos da música “Pão em todas as mesas”, de Zé Pinto: “A mesa tão grande e vazia de amor e de paz, de paz! Aonde há luxo de alguns, alegria não há jamais! (...) As forças da morte, a injustiça e a ganância de ter, agindo naqueles que impedem ao pobre viver. Sem terra, trabalho e comida a vida não há. Quem deixa assim e não age a festa não vai celebrar”.

O debate sobre os grandes parques eólicos é necessário para que seja possível continuar celebrando todas as festas nas comunidades e nos territórios. “A gente precisa celebrar a Festa da Colheita de todos os dias”, disse Vanúbia.

A agente pastoral lembrou que as primeiras lutas dos camponeses e as camponesas da Paraíba acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra na década de 70 eram pelo direito à posse para plantar e usufruir do que era plantado. Hoje, há uma retomada da luta para que os agricultores tenham novamente direito à posse, mas agora, do lugar que eles já têm propriedade.

“É uma reforma agrária ao contrário. É pelo avesso que o Capital tem chegado nas nossas terras e ocupado esses espaços de produção de alimentos. Porque os camponeses e as camponesas sempre produziram, sempre estão aí nas suas terras produzindo vida, comida, fazendo partilha”.

No 8 de março, Vanúbia destacou, ainda, que nesse contexto, as mulheres são as primeiras que sofrem quando os empreendimentos chegam, porque são elas que sabem que sem terra e sem casa não há como alimentar seus filhos.

O objetivo das organizações presentes na audiência é de informar a população e organizar o enfrentamento e a resistência a esse modelo, que se utiliza do discurso da sustentabilidade, mas, na prática, é degradante pela forma como vem sendo implantado.

 

Foto: Equipe CPT Campina Grande (PB)

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Rua Esperanto, 490, Ilha do Leite, CEP: 50070-390 – RECIFE – PE

Fone: (81) 3231-4445 E-mail: cpt@cptne2.org.br