Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

ONG identificou modificação genética em três entre quatro sementes de milho distribuídas pelo governo do estado

O polo da Borborema, no agreste paraibano, é conhecido pelo resgate e preservação das sementes crioulas. Nos 60 bancos de sementes comunitários na área, 5 mil famílias agricultoras trocam e armazenam sementes apropriadas para aquele lugar mantendo a tradição que é uma herança cultural. 

Mas, desde que o Governo da Paraíba iniciou o programa estadual de sementes certificadas no estado, em 2020, as sementes crioulas sofrem a ameaça de apagamento. O programa distribui anualmente toneladas de sementes de milho, feijão e sorgo, nas quais foi identificada contaminação por transgênicos.

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Testes identificam contaminação

A AS-PTA - Agricultura Familiar e Agroecologia, associação que oferece assistência técnica aos agricultores de diversos estados descobriu, através de testes realizados com fitas imunocromáticas, que três entre quatro sementes de milho distribuídas pelo governo têm organismos geneticamente modificados.

“Por estarem contaminados por transgênicos, eles trazem uma ameaça à continuidade das sementes crioulas e sobretudo ao trabalho que os agricultores vem fazendo já milenarmente de conservação, domesticação e organização desses materiais”, explica Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, que destaca a ameaça para a vida dos agricultores nas sementes. 

“Hoje ele (o agricultor) está ameaçado, porque, quando esse material crioulo é contaminado por transgênicos, traz consequências para saúde, para manutenção desses materiais e também para dependência dos agricultores, que ao invés de produzir sua própria semente vão ter que estar comprando materiais de empresas e ficar refém desse sistema”, conclui.

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Agricultores se sentem ameaçados

Mateus Manassés é agricultor e organizador de um banco de sementes comunitárias em Queimadas, na Paraíba, afirma que eles esperam uma mudança na forma de aquisição das sementes, que valorize a cultura local e se adapte às condições climáticas. 

“Nós esperamos que o Governo do Estado da Paraíba compre sementes aos agricultores familiares e redistribua para outros agricultores familiares sementes extras, resistentes à nossa região, resistente às condições climáticas da nossa região, preservando o nosso patrimônio genético que já vem de outras gerações - dos nossos avós, nossos bisavós e nossos pais - propondo que daqui pra frente a gente possa também estar entregando esse patrimônio a outras gerações e também gerando renda para as próprias famílias agricultoras", afirma.

Campanha

As famílias têm se organizado e a AS-PTA está realizando ações para prevenir o plantio dessas sementes transgênicas, como a campanha ‘Não planto transgênico para não apagar minha história’ em parceria com outras organizações, como aponta o assessor técnico Emanoel Dias. “Essa campanha tem um conjunto de ações que vão desde o processo de formação dos agricultores e das agricultoras. Então nós fazemos reuniões comunitárias lá no banco comunitário de sementes, explicando ao agricultor o que é transgênico, quais são as ameaças desses transgênicos”, destaca.

Mas estas formações não se resumem a formações teóricas. “A gente desenvolve também umas iniciativas de práticas, porque não adianta ser contrário ao transgênico se a gente não tem a semente para o pessoal plantar; então a gente também faz campos de multiplicação de variedade de milhos livres de transgênicos; tem também uma série de ações que a gente faz o teste desses materiais quando ele é colhido no campo”, explica o assessor.

A reportagem procurou a Secretaria do Desenvolvimento da Agropecuário e da Pesca do Governo da Paraíba, responsável pela distribuição de sementes, para se pronunciar sobre o caso, mas não tivemos resposta até o momento.
 

Edição: Elen Carvalho

 

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