Com o tema “Mutirão pela Casa Comum: em defesa da terra, da água e da vida”, a 34ª Romaria da Terra e das Águas, ocorrida no último final de semana, animou cristãos em Porto de Pedras, no Litoral Norte de Alagoas, fortaleceu a fé, a esperança e a disposição para a luta de centenas de romeiros e romeiras.
Essa foi a terceira romaria encabeçada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Alagoas em 2023. Antes, teve a 33ª edição na Arquidiocese de Maceió, realizada no município de Murici em janeiro, após o adiamento devido às fortes chuvas no final de 2022; e ocorreu a 10ª Romaria das Águas e da Terra na Diocese de Palmeira dos Índios, no mês de setembro.
Fechando esse ciclo, a 34ª Romaria da Terra e das Águas romaria foi muito participativa. Para tanto, contou com parcerias importantes, como a Paróquia Nossa Senhora da Glória e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); bem como com a presença ativa das juventudes camponesa e urbana; de religiosas, a exemplo das Filhas do Sagrado Coração de Jesus; de voluntários da associação italiana Amici di Joaquim Gomes; de integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST); além do engajamento das famílias camponesas.
“A romaria é aquilo que mostra o perfil de uma pastoral e é nela que a Pastoral da Terra se coloca como uma pastoral próxima aos mais pobres através da realização de uma atividade em que a fé, a memória e a resistência andam juntos. Talvez nenhuma outra atividade da Igreja e da sociedade junte esses elementos. Então, isso faz da romaria um evento especial”, disse Carlos Lima, da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A programação começou na noite do sábado, 18, com a exibição do filme “Antes do prato”, em frente à Igreja Matriz do município. O público assistiu atento ao documentário que conta a história de quatro experiências em agroecologia, enquanto as últimas caravanas chegavam.
Na sequência, o pároco anfitrião, padre Antelmo Correia, presidiu a celebração da santa missa, ao lado dos padres Diego Vazeta, da Paróquia Senhor Bom Jesus, situada na cidade de Matriz de Camaragibe, e Gilvan Neves, da Paróquia Nossa Senhora das Graças, localizada no bairro Vergel do Lago, em Maceió. Padre Gilvan, além de ser responsável pela brilhante homília, também colaborou com animação da caminhada.
Para o padre Antelmo, a romaria foi um momento de renovação e inspiração da Paróquia Nossa Senhora da Glória. “A romaria foi renovadora para a nossa paróquia, para a nossa comunidade. Recebemos irmãos de praticamente todo o estado de Alagoas e de fato foi uma experiência muito edificante para nós”, disse.
O padre Diego retornou à Paróquia Senhor Bom Jesus em fevereiro deste ano após um período na Itália. Entre 1994 e 2000 sua administração e pastoreio marcaram os paroquianos por seu jeito alegre, cordial e cuidadoso com a juventude. Agora, de volta à Alagoas, a participação de Vazeta na celebração e na caminhada inspirou o povo de Deus.
No ato penitencial da santa missa, a missionária franciscana e camponesa, Irmã Cícera Menezes, colocou em forma de prece de perdão a questão da especulação imobiliária da orla marítima, afetando a pesca e o lazer, e a especulação imobiliária rural nos assentamentos. “Pecamos por fazer pouco contra essas injustas”, falou.
Após a comunhão, o padre Antelmo pediu intercessão de São José e para que a alegria do Senhor seja a força e acompanhe os romeiros e as romeiras na caminhada.
Na bela caminhada, as pessoas dançavam, cantavam e rezavam. Entre elas estava o grupo de jovens “Renascer no espírito” da comunidade São José, do povoado Lages, que chamou atenção pelo ânimo e pela devoção. A maioria dos meninos e das meninas andou descalça como forma de penitência.
Glendha Elloah, de 15 anos, contou que não apenas o grupo, mas toda a comunidade São José é muito animada. Questionada sobre sua participação, a adolescente relatou: “Foi um momento diferente e único, uma experiência que nunca tinha vivido antes, uma forma de se aproximar mais de Deus. Ontem foi a primeira vez que participamos de uma romaria e já estamos prontos para outra!”.
O percurso da romaria contou com quatro paradas inspiradas no tema “Mutirão pela Casa Comum: em defesa da terra, da água e da vida”.
A primeira parada ficou sob responsabilidade das CEBs, que fizeram uma performance teatral trazendo a reflexão sobre o mutirão pela Casa Comum. Na encenação, foram colocadas as bandeiras de movimentos e entidades presentes, como o MST, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) em Alagoas e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal). Ali, a personagem da Mãe Terra ficou em evidência jogando sementes por cima das bandeiras, enquanto cantavam: “Eu vim do ventre da mãe Terra, ela me deu semente boa, que nutre meu corpo, se espalha em bênçãos. Sou plantadeira de semente boa”.
A segunda parada foi organizada pelo MST, que fez um jogral em defesa da água. “A água, um bem de todos, vem sendo tratada como um negócio e servindo para enriquecer uns poucos. Mas como diz Papa Francisco: A água, fonte de vida não pode ser uma mercadoria. Por isso estamos em Romaria e nos comprometemos com o mutirão pela Casa Comum em defesa da terra, da água e da vida!”, afirmaram os agricultores e as agricultoras em voz alta.
A terceira parada, em defesa da terra, aconteceu na entrada do assentamento Padre Alex Cauchi, destino da romaria. Naquele momento, o coordenador nacional da CPT, Carlos Lima, fez um breve resgate sobre a luta pela terra no Litoral alagoano e a importância do papel das mulheres nas mobilizações, nas ocupações, na resistência e na obtenção de conquistas.
A última parada, no amanhecer do domingo, 19, no assentamento, abordou a defesa da vida, colocando em evidência a sobrevivência do planeta e dos povos. A CPT levou a reflexão que um bom sinal e uma boa prática para a vida é a partilha. Por isso, o encerramento da romaria repetiu o gesto de Jesus Cristo em partilhar os cinco pães e os dois peixes, como forma de trazer a reflexão de que as pessoas podem alimentar umas às outras.
Ao final, a jovem noviça Nathany Keidann, que nunca tinha vivenciado uma romaria, avaliou a nova experiência: “Foi muito bonito ver esse movimento das pessoas, essa fé, essa esperança que eles têm de dias melhores. A gente percebe que a cada parada, a cada momento de oração, eles se recolhiam e entregavam a vida deles para nosso Senhor”.
Para a irmã Cícera, a 34ª Romaria da Terra e das Águas foi um forte momento de reflexão coletiva sobre as realidades gritantes da Casa Comum. Estiveram presentes comunidades urbanas e rurais, especialmente aquelas mais atingidas pelos problemas sociais e pelo desrespeito à Mãe Terra. “Quando estamos só refletindo a gente fica mais fraca, mas com mais pessoas, me sinto forte porque podemos sonhar, planejar, organizar de forma coletiva as lutas de combate às maldades”, concluiu.
Lara Tapety - Ascom CPT/AL