Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Missa no assentamento Flor do Bosque faz memória aos 10 anos da Páscoa do padre missionário Manuel Andrés Matos

O final de 2022 da Comissão Pastoral da Terra de Alagoas foi marcado por celebrações natalinas repletas de fartura em acampamentos e assentamentos na Zona da Mata, no Litoral e no Sertão do estado e missa de 10 anos da Páscoa do padre Manuel Andrés Matos, missionário espanhol que teve atuação na área rural do Nordeste brasileiro.

A primeira celebração de Natal aconteceu no dia 20 de dezembro, às 10h, no acampamento Santa Cruz, situado no município de Murici, Zona da Mata. O momento contou com a participação de pessoas das comunidades dos acampamentos vizinhos Mumbuca e Bota velha – todos com mais de duas décadas de resistência na luta pela terra – e do assentamento Dom Hélder Câmara. Na ocasião, o frei Roberto Eufrásio, franciscano da Ordem dos Capuchinhos, trouxe a palavra de Deus e realizou o batizado de quatro crianças. Em seguida, houve a partilha de um almoço na casa de farinha comunitária.

No dia seguinte, 21 de dezembro, a equipe da Pastoral partiu para o Litoral alagoano. No assentamento Quilombo dos Palmares, localizado em São Miguel dos Milagres, a celebração reuniu camponeses e camponesas da própria comunidade e das áreas próximas, como os assentamentos Jubileu 2000, Irmã Dorothy Stang e Padre Alex Cauchi e acampamentos Domingas e Porto das Ostras, em Porto de Pedras. Aproximadamente 90 pessoas estiveram na atividade, que também contou com a bênção do frei Roberto.

No Sertão, a celebração natalina aconteceu pela manhã, às 9h, no dia 22 de dezembro, no assentamento Velho Chico, no município de Belo Monte, e à tarde, às 16h, no assentamento Padre Cícero, em Água Branca. Em cada área, famílias camponesas de acampamentos e assentamentos mais próximos estiveram presentes.

Memória ao Padre Manuel Andrés Matos

Após o Natal, no dia 27 de dezembro, foi realizada uma missa em homenagem ao Padre Manuel Andrés Matos, no assentamento Flor do Bosque, em Messias. A missa foi celebrada pelo padre Gilvan Neves, pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, situada na Praça das Graças, no bairro da Levada, na capital.

Manuel Andrés Matos foi um padre jesuíta, doutor em filosofia pela Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma/Itália, cofundador da CPT, membro do CEAS (Centro de Estudos e Ação Social - Salvador) e colaborador nos Cadernos do CEAS de 1970 até seu falecimento, em 2012. Ele residia na Bahia, mas também cumpriu um importante papel na luta dos povos empobrecidos nos estados de Alagoas e Pernambuco, onde participava das romarias e atuava perto do povo.

A missionária e camponesa Irmã Cícera Menezes lembrou da atuação junto ao Padre Andrés para ajudar famílias da Zona da Mata alagoana que foram escravizadas pela monocultura da cana de açúcar e sofriam com a exploração da mão de obra e a opressão do latifúndio na região.

“Flor do Bosque, a primeira ocupação que teve aqui – tinha muita gente – foi fruto do trabalho de base do Padre André. Fazíamos trabalho de base em Messias, Murici, Branquinha e União [dos Palmares]. Éramos nós, eu e Padre André, que fazíamos esse trabalho de base. Padre Alex também estava ali, motivava e transportava a gente. A gente fazia as reuniões com o povo nas periferias dos municípios. E aí surgiu essa ocupação aqui, fruto do trabalho de base do Padre André”, disse Ir. Cícera. A religiosa contou, ainda, que o padre passava de casa em casa, de porta em porta, para articular o povo para as reuniões que, com o passar tempo ficavam cada vez mais cheias e precisaram ser transferidas para as dependências da Igreja de Murici.

O agricultor do assentamento Flor do Bosque, Sidinaldo Laurindo, conhecido como Nado, demonstrou sua gratidão ao padre Andrés: “Se hoje nós estamos aqui nessa terra abençoada é porque o Padre Andrés passava força pra gente resistir na luta”, afirmou.

Nado também trouxe suas boas lembranças: “Eu trago na lembrança uma caminhada que nós fizemos para Atalaia. Nós fomos de Maceió para Atalaia e o Padre celebrou uma missa em memória de um companheiro que foi tombado na luta. A lembrança que eu trago é da hora que ele foi passar aquele óleo colorido na gente para simbolizar o sangue do companheiro. Encontrei com ele depois na Grota da Alegria. Eu fiquei surpreso, porque eu ia subindo a grota e ele ia descendo. E eu disse: ‘Padre, o senhor por aqui?’ E ele: ‘Eu estou por aqui. Vou para casa da irmã Marieta’.  A irmã Marieta é uma professora que também gostava de participar da Igreja e morava na Grota da Alegria. E ele fez uma alegria, colocou a mão no meu ombro”, disse. E completou: “Eu também tenho a lembrança de que ele sempre andava com bala de gengibre no bolso e me deu: ‘Toma, irmão, 2 balinhas pra você’. Então, eu trago essas lembranças do Padre André e outras lembranças que a gente não pode esquecer, porque ele um padre que dava força para nós resistirmos na luta”.

Para Marilene Gueiros, da equipe da CPT em Maceió, os depoimentos das religiosas, camponeses e camponesas presentes nos fazem refletir sobre o sentido das coisas, da fé e do compromisso com os pobres. Segundo Marilene, a religiosa Irmã Tereza levou presentes para a criançada, que fez a festa. Havia muitas crianças e jovens na celebração. Ao final, houve um almoço camponês especial.

“Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos” (Papa Francisco)

A CPT deseja que a fartura das celebrações de final de ano aconteça sempre e não apenas nos momentos festivos, que não falte comida na mesa de nenhuma família do campo e da cidade, que todos e todas tenham alimentação sadia, moradia, trabalho digno, direitos sociais e trabalhistas respeitados e que possam amar, existir, resistir e sonhar.

 

 

Fotos: Equipe CPT/AL

 

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