A Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Alagoas , realizou entre os dias 20 a 22 de Março a sua 23ª Assembleia Estadual, com o tema “A terra é de quem trabalha”. Participaram da assembleia cerca de 150 camponeses e camponesas ligados a CPT, com delegação do sertão, agreste, mata e litoral, além de agentes pastorais. No encerramento da assembleia os participantes aprovaram a Carta da 23a. Assembleia. Leia a carta.
Carta da 23ª Assembleia da Pastoral da Terra de Alagoas
“A terra é de quem trabalha, a história não falha, nós vamos ganhar”.
Somos gente da terra, somos terra e em nome dela vamos continuar lutando para libertá-la e nos libertar. Vamos continuar contrariando os planos das poucas famílias que escravizaram a terra em Alagoas. Chegamos das regiões da mata, do sertão, do agreste e do litoral animados pelas palavras do profeta Isaías “construirão casas e nelas habitarão, plantarão vinhas e comerão seus frutos”.
Abrimos nossa assembleia ouvindo o clamor de 29 famílias que há oito anos trabalham nas terras da fazenda Jardim, conhecida como Horizonte no município de Ibateguara. Elas estão ameaçadas de serem expulsas e de perder 70 hectares de lavoura. No lugar de alimentos, o novo proprietário pretende plantar capim. É a terra de trabalho sendo engolida pela terra de negócio. “Estão tentando empurrar arame farpado em nossas bocas, dizendo que é macarrão.”
“Ai de vós que ajuntam casa com casa e ides acrescentando campo a campo, até chegar ao fim de todo o terreno”! (Profeta Isaías, 5:8)
Vimos que a conjuntura é esquisita. Percebemos, com lamento, que o governo da presidenta Dilma se rendeu aos interesses do capital internacional. Pretende transformar tudo em mercadoria. A reforma agrária é vista pelo governo como algo do passado - e cara. E os assentamentos têm que ser inseridos ou enquadrados na lógica da produção para exportação. A independência das comunidades está sendo ferida para manter acordos federativos, recheados de fisiologismo.
Entendemos que o projeto das elites vem desde os tempos dos reis, quando expulsava e matava os camponeses para tomar as terras, a exemplo de Acab e sua esposa Jezabel que mataram o inocente, o camponês Naboth. (1 Reis 21:1-21)
Os usineiros e criadores de bovinos alargam as suas terras. Adiantam as cercas e nos empurram para os barrancos, encostas e periferias das cidades, com apoio do poder judiciário e com o uso de dinheiro público.
“Ai daqueles que, no seu leito, tramam a iniquidade e maquinam o mal! À luz da alva, o praticam, porque o poder está em suas mãos”. (Profeta Miquéias, 2:1)
Somos um povo resistente. Somos agricultores e agricultoras. Plantamos alimentos saudáveis e diversificados. Comemos e queremos viver do suor do nosso rosto.
Somos herdeiros das lutas dos Palmares. Somos marcados pelo Conselheiro de Canudos. Marchamos na luta de João Pedro Teixeira das Ligas Camponesas. Somos construtores da Nova Terra.
É o amor de Cristo que nos anima a seguir adiante na Caminhada.” (2ª Carta de Paulo aos Coríntios, 5:14)
Barra de São Miguel, 22 de março 2012.
O povo da terra reunido na 23ª Assembleia da Pastoral da Terra de Alagoas.