Padres, muito poucos, mas fiéis. Bispos, menos ainda, mas proféticos. Os religiosos e religiosas do meio popular nunca faltam.
Qual a missão da Igreja de Base na luta ecológica do Nordeste? Essa era a pergunta fundamental. E já existe tanta luta! Nossas comunidades estão envolvidas com as cisternas, com as sementes, com a reciclagem do lixo, com a luta pela terra, com as populações de rua das grandes cidades, lendo a bíblia com um olhar ecológico. Os índios de várias nações estavam presentes. Desse velho baú sempre é possível retirar coisas velhas e novas.
A região Nordeste é a mais ameaçada pela mudança climática no Brasil. Cada grau de elevação na temperatura tem efeitos desastrosos para nossa realidade. Segundo os geógrafos, mesmo na atual condição climática do planeta, o Nordeste é a única região brasileira sujeita à desertificação. A Amazônia pode até virar uma savana, mas não um deserto. As demais regiões brasileiras sempre terão chuva, a não ser que a mudança climática altere todo o clima do planeta. Mas aí já será outra história.
Por hora o Nordeste tem beleza, praias, sol, biodiversidade, água abundante e mal aproveitada e, sobretudo, tem um povo que dança melhor, que canta melhor, que vive mais feliz, apesar de todos os pesares. Não é o paraíso em função das injustiças sociais e da pobreza, mas bem que poderia ser.
Nossas lutas não têm sido vãs. As últimas estatísticas dizem que a mortalidade infantil por aqui caiu 70% nos últimos dez anos. Não é preciso ser mágico para saber que se deve à melhor qualidade de água das cisternas, do trabalho da Pastoral da Criança, de algumas políticas governamentais de apoio às populações mais pobres. O mínimo do mínimo já é suficiente para salvar tantas vidas. Portanto, já é a diferença entre a vida e a morte.
Nossas comunidades nordestinas hoje não estão sós, já não são a força hegemônica nas mobilizações de base. Mas continuam vivas. Quem não acredita, precisa ver: basta ouvir o toque da zabumba e um texto do evangelho.
* Artigo escrito por Roberto Malvezzi (Gogó) da Comissão Pastoral da Terra.
Fonte: CPT Nacional