Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Lá foi o trem das CEBs do Nordeste em direção a São Luis, carregando em seu matulão o xote, maracatu, baião, fé, axé, alegria, esperança e luta. Não faltou o "boi de S. Luiz".  Na simplicidade de sempre, nas dificuldades de sempre, na luta de sempre. Cerca de 500 pessoas, tirando recursos do próprio bolso para poder estar lá, pensar, celebrar e ir à frente.

Padres, muito poucos, mas fiéis. Bispos, menos ainda, mas proféticos. Os religiosos e religiosas do meio popular nunca faltam.

 

Qual a missão da Igreja de Base na luta ecológica do Nordeste? Essa era a pergunta fundamental. E já existe tanta luta! Nossas comunidades estão envolvidas com as cisternas, com as sementes, com a reciclagem do lixo, com a luta pela terra, com as populações de rua das grandes cidades, lendo a bíblia com um olhar ecológico. Os índios de várias nações estavam presentes. Desse velho baú sempre é possível retirar coisas velhas e novas.

 

A região Nordeste é a mais ameaçada pela mudança climática no Brasil. Cada grau de elevação na temperatura tem efeitos desastrosos para nossa realidade. Segundo os geógrafos, mesmo na atual condição climática do planeta, o Nordeste é a única região brasileira sujeita à desertificação. A Amazônia pode até virar uma savana, mas não um deserto. As demais regiões brasileiras sempre terão chuva, a não ser que a mudança climática altere todo o clima do planeta. Mas aí já será outra história.


Por hora o Nordeste tem beleza, praias, sol, biodiversidade, água abundante e mal aproveitada e, sobretudo, tem um povo que dança melhor, que canta melhor, que vive mais feliz, apesar de todos os pesares. Não é o paraíso em função das injustiças sociais e da pobreza, mas bem que poderia ser.

Nossas lutas não têm sido vãs. As últimas estatísticas dizem que a mortalidade infantil por aqui caiu 70% nos últimos dez anos. Não é preciso ser mágico para saber que se deve à melhor qualidade de água das cisternas, do trabalho da Pastoral da Criança, de algumas políticas governamentais de apoio às populações mais pobres. O mínimo do mínimo já é suficiente para salvar tantas vidas. Portanto, já é a diferença entre a vida e a morte.


Nossas comunidades nordestinas hoje não estão sós, já não são a força hegemônica nas mobilizações de base. Mas continuam vivas. Quem não acredita, precisa ver: basta ouvir o toque da zabumba e um texto do evangelho.


* Artigo escrito por Roberto Malvezzi (Gogó) da Comissão Pastoral da Terra.

 

Fonte: CPT Nacional

 

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