Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

\"\"CPT denuncia que Vitalmiro Moura, absolvido da acusação de ser mandante da morte da missionária, deu R$ 100 mil a mulher de intermediário do crime

BELÉM – A Comissão Pastoral da Terra (CPT) chamou ontem a atenção para um fato que considera “muito suspeito” ao manifestar “indignação” com a absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, Bida, pelo júri popular. Elizabeth Coutinho, mulher de Amair Feijoli da Cunha, Tato, condenado como intermediário do assassinato de Dorothy Stang, afirmou em juízo, durante depoimento, ter recebido cerca de R$ 100 mil de Bida por supostas dívidas.

Segundo a CPT, nos autos do processo consta ainda a gravação de uma conversa entre os pistoleiros presos, Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista, em que “comentam a oferta de R$ 20 mil para mudarem seus depoimentos, retirando a responsabilidade dos fazendeiros”. A CPT quer que esses fatos sejam esclarecidos durante a apelação por um novo julgamento do fazendeiro.

O promotor Edson Cardoso, responsável pela acusação aos matadores de Dorothy, começou a manusear ontem os autos para apresentar, na próxima semana, os fundamentos do recurso de apelação contra a sentença que livrou Bida da cadeia. “Estamos prontos para uma nova batalha e não nos intimidaremos diante daqueles que criticam a absolvição do meu cliente. Não há provas nos autos, repito, para incriminá-lo”, rebate o advogado Eduardo Imbiriba, defensor do acusado.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse que a absolvição de Bida aumenta a preocupação da entidade com a vida de todos os ameaçados de morte no Pará, entre os quais os bispos José Luiz Azcona, Erwin Kräutler e Flávio Giovenale. O arcebispo de Manaus, dom Luiz Soares Vieira, em nome da CNBB, entende que a decisão do júri popular de declarar o fazendeiro inocente “não irá intimidar a luta em favor da verdade e da Justiça”.

Para o arcebispo, a CNBB manifesta sua “indignação ética” diante do resultado, mas ao mesmo tempo pede a “luz do Espírito Santo” sobre as cabeças dos desembargadores do Judiciário paraense para que recuperem a justiça, “erradicando a impunidade” que estimula a violência.

“Estamos diante de uma situação que é apenas um exemplo a mais de como ainda temos que caminhar na reforma do judiciário”, disse dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB.

Sobre o conflito entre arrozeiros e indíos na reserva indígena Raposa Serra do Sol, Roraima, a entidade disse ser conseqüência da ausência do Estado na área.

“O que realmente está ocorrendo nessas regiões é a ausência do Estado. Falta saúde, educação e presença da segurança. Mas isso não é só lá, a Amazônia toda está nessa situação”, afirmou dom Luiz Soares Vieira, também vice-presidente da CNBB. Ele disse que algumas regiões do país podem, sim, ser chamadas de terra sem lei.

A CNBB defende a demarcação contínua do território indígena. O arcebispo de Manaus afirmou que experiências com ilhas dentro da terra demarcada não foram bem-sucedidas. Dom Luiz também criticou a afirmação de que a reserva atrapalharia a defesa do território nacional.

“Veja a fronteira com a Colômbia. Por que a guerrilha não entrou em território brasileiro, já que os pelotões de fronteira estão muito longe um do outro? Por causa dos índios. E por que eles estão hoje nas fronteiras? Porque eles foram escorraçados”, afirmou.

 

Fonte: Jornal do Commercio

 

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