Um dia depois de o presidente Lula cobrar maior empenho da equipe para ajudar na articulação política com o Congresso, o clima azedou de vez entre o Ministério da Fazenda e a bancada ruralista para a renegociação de R$ 130 bilhões de dívidas antigas do setor agrícola.
Por, Adriana Fernandes e Gustavo Porto, BRASÍLIA
O secretário de Política Econômica, Bernard Appy, reagiu com indignação a críticas duras feitas pelo presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Carlos Montes (DEM-MG), contra o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco do Brasil.
Na portaria do ministério, Montes declarou que o clima era de “quase revolta” na bancada e chegou a ameaçar com retaliações no Congresso, caso a reivindicação de suspensão do pagamento das parcelas da dívida do setor até março não fosse atendida pelo governo. O que causou maior desconforto foi o fato de que o líder ruralista fez os ataques logo após ter sido recebido, no Ministério da Fazenda, pelos ministros Mantega, Reinhold Stephanes (Agricultura) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais).
Appy, responsável pela elaboração da proposta do governo de renegociação, acusou Montes de falar “inverdades”. Segundo Appy, não há má vontade ou falta de prioridade da Fazenda em relação ao setor agrícola.
“Pelo contrário”, disse o secretário, “ao longo dos últimos anos, o governo promoveu uma série de renegociações favoráveis aos setor, além de ter reduzido significativamente em 2007 os juros dos financiamentos agrícolas, de 8,75% para 6,75%”.
Na avaliação de Appy, o líder ruralista falou “inverdades” também ao acusar o BB de não cumprir determinações da Fazenda e de estar em falta de sintonia com o governo. Subindo o tom, Appy disse que política agrícola não significa direito de deixar de pagar dívida, e sim criação de condições para o crescimento do setor e para o pagamento das dívidas.
Appy considerou inaceitável o pedido de prorrogação de parcelas da dívida de custeio da safra. Segundo o secretário, não faz sentido prorrogar esse tipo de dívida num momento em que a economia passa por um período favorável de crescimento. Ele destacou que o deputado ruralista pediu a suspensão do pagamento inclusive de dívidas que não fazem parte da renegociação.
Appy disse que Montes foi bem recebido pelo ministro e não tinha motivo para reagir da maneira como fez, dando declarações pesadas contra o governo, que se mostrava disposto a negociar. “Se alguém criou um clima ruim, não fomos nós”, disse.
Na reunião, o Ministério da Fazenda prometeu para a próxima segunda-feira uma posição oficial sobre o pedido dos deputados ruralistas, de prorrogação das parcelas de janeiro a março de 2008 da dívida agrícola. O argumento dos ruralistas é de que as parcelas só vão vencer porque foi postergado, de 31 de dezembro de 2007 para 31 de março deste ano, o prazo para uma solução final sobre a renegociação da dívida total, que soma R$ 130 bilhões.
Jornal O Estado de São Paulo, 25/1/2008