Após a 10 ª Romaria da Terra e da Água realizada na cidade de Uruçuí, ao sul do Estado, pela diocese Oeiras e Floriano, a Fundação Águas do Piauí – FUNÁGUAS entrará com uma representação, nesta terçafeira (23), junto aos Ministérios Públicos Federal e Estadual pedindo a suspensão da isenção fiscal e do Termo de Ajuste de Conduta - TAC, firmados entre o Governo e a multinacional BUNGE Alimentos.
O presidente da FUNÁGUAS, Judson Barros esteve presente na Romaria e fez um duro discurso contra a multinacional e o Governo do Estado. Durante suas palavras o ambientalista alegou que os dois são os maiores responsáveis pela destruição do Cerrado e do povo que mora na região, a Bunge e o Governo WD. Afirmou ainda que a isenção oferecida pelo Governo é absurda.
“É inadmissível vermos esta situação a qual o governo só favorece aos grandes produtores e a esta multinacional, que provocam danos irreversíveis ao meio ambiente prejudicando assim a classe menos favorecida, os pobres. Essa empresa deve pagar sim por usufruir de nossas riquezas e não cumprir com o que prometeu.”, disse. J
udson ambientalista ainda na tribuna afirmou que o modelo de desenvolvimento aplicado pelo Governo do Piauí é “satânico e demoníaco”, afirmando que está acontecendo um verdadeiro “terrorismo” contra o meio ambiente e a vida do homem do campo. Citou como exemplos o desaparecimento do Riacho do Sangue, a 6 km da BUNGE, e a morte dos 15 trabalhadores rurais registradas na região de Ribeiro Gonçalves. envenenados por agrotóxicos nas fazendas de soja, e que até o momento nenhuma atitude concreta fora firmada.
Ainda durante a Romaria entidades como Cáritas Brasileira Regional do Piauí e da Comissão Pastoral da Terra – CPT protestaram na tribuna popular contra o governador por favorecer o agronegócio, os quais consideraram de “desordenado”. O evento tinha a frente 50 padres e 07 bispos, e alguns dos que se pronunciaram questionaram os grandes empresários capitalistas por investirem apenas no materialismo e esquecem da vida religiosa sem se preocupar com o próximo.
O bispo, Dom Augusto Alves Rocha, durante a missa na região do cerrado para mais de 5.000 pessoas de todo o Estado, que “o clamor do povo no deserto é em decorrência do agronegócio da soja com o aval dos órgãos governamentais.”
Na ocasião da Rede Ambiental do Piauí e FUNÁGUAS distribuíram uma carta intitulada – Miragem no Cerrado Piauiense – e colheram assinaturas para um abaixo assinado no sentido de solicitar a abertura de Inquérito Civil para suspender a Isenção Fiscal e o Termo de Ajuste de Conduta - TAC da multinacional com sede no EUA.
“A BUNGE não está cumprido com as determinações do TAC nem com os termos constantes da proposta de investimentos da empresa”. disse o ambientalista.
No documento duas das metas da empresa era de se investir 420 milhões de reais e gerar cerca de 11.000 empregos.
Veja o texto:
Miragem no Cerrado Piauiense
Carta aos participantes da Romaria da Terra e da Água em URUÇUÍ-PI
Há 5 anos uma voz solitária, no sul do Piauí, se levantou contra a destruição do Cerrado e seu povo. Gritou em bom tom que o desenvolvimento prometido para a região era uma mentira, visava apenas beneficiar poucos (uma multinacional, alguns políticos e produtores de soja), e que a grande maioria estaria excluída. Naquele momento, o povo encantado com o “canto de sereia” da Bunge e do Governador não compreendeu. Mas agora é outro momento e o povo já está sabendo que foi enganado.
Isso aconteceu com a chegada da Bunge Alimentos à cidade de Uruçuí, Piauí. A promessa era grande: 10 mil empregos para a região, a maior indústria de soja do Brasil. Tudo mentira. Estamos nos dando conta disso agora. E vejam, tudo com o aval do Governo do Estado. E podem esperar, se a Bunge ficar, depois que completar os 15 anos de isenção ela vai embora, deixando um deserto como herança para o povo da região.
O Cerrado do Piauí já está quase todo destruído (60% já foi liquidado), os rios e riachos estão secando e envenenados pelo uso abusivo de agrotóxicos nas lavouras de soja, os solos estão secando e sendo transformados em desertos. O calor é insuportável e as chuvas já faltam drasticamente. Como se a soja fosse pouco, agora estão chegando a mamona, a cana, o carvão e o eucalipto. E o Governador fazendo mais promessas: “É agora que o Piauí vai desenvolver”. Não acreditem, é mentira de novo. Se continuar assim, dentro de no máximo 5 anos a região desde Uruçuí a Bom Jesus do Gurguéia vai ser um grande deserto de rios secos, com o povo passando sede e fome.
Mas nem tudo está perdido. Podemos dar um basta nessa situação. Não podemos é esperar no Governo do Estado, pois o Governador WD é o principal representante desse modelo predador. E por quê? Porque os sojeiros e a Bunge são os financiadores de campanhas políticas, é quem dá o dinheiro para comprar os votos. O compromisso do Governador não é com o povo, mas com quem lhe garante dinheiro para subornar eleitores. O povo precisa ir para as ruas e dizer que não quer mais esse “desenvolvimento” que não respeita o meio ambiente, os direitos humanos e a cultura existente. Precisamos dizer agora, antes que seja tarde: “FORA Bunge”.
E por falar em direitos humanos, o que foi resolvido com relação à morte dos trabalhadores rurais envenenados por agrotóxicos em fazendas de soja? Até o momento nenhuma providência foi tomada. O Governador WD mandou a Secretaria de Saúde dar uma versão distorcida aos fatos e categoricamente afirmar que a morte dos trabalhadores não fora por agrotóxicos. Mandou também a Secretaria de Segurança promover um grande circo para desenterrar mortos e colher amostras que foram colocadas em “FORMOL” para que o resultado fosse negativo. Os trabalhadores, disse o Governador, não morreram envenenados por agrotóxicos, mas também até agora não disse do que foi. Convém lembrar que essas mortes aconteceram na campanha eleitoral em que o Governador era candidato à reeleição.
E o presente das isenções fiscais que foram oferecidas para a Bunge. Essa empresa não paga nenhum imposto no Piauí. 15 anos de isenção. Disse que ia criar 10 mil empregos. Não criou. Disse que ia montar uma indústria de óleos, margarina e ração. Também não montou, nem vai montar. Para que a isenção seja mantida faz-se necessário que a Bunge cumpra com a sua parte no acordo. Não está cumprindo, mas o governador WD mantém a isenção. Qual será o motivo? Podemos imaginar que deve ter algum beneficio para manter uma isenção que dá prejuízo de quase 200 milhões de reais por ano ao Estado. Será que a Bunge financia campanhas de WD?
Vamos falar da política que está sendo executada pela Bunge e o Governador WD. É a política da intimidação. Calar o movimento ambientalista para que ninguém levante a voz no sentido de questionar a Bunge ou o Governador. Se você assim fizer corre sérios riscos, desde sua integridade moral à sua vida. Querem intimidar o povo usando um “bode expiatório”: “Povo, não se metam a besta, vejam a desmoralização que estamos promovendo ao ambientalista Judson Barros. É apenas um exemplo do que somos capazes de fazer e onde podemos chegar. Quem se meter nesse negócio vai ser execrado moral e publicamente”. É assim que a Bunge e o Governador atuam. A Bunge move uma ação contra o ambientalista Judson Barros na Comarca de Uruçuí pedindo uma indenização por danos morais que chega a 2 milhões de reais. Mas que danos morais? Questionar uma empresa que chega ao Piauí, e avalizada pelo Governador, não respeita as leis, é atingir a moral da Bunge? É claro que a empresa quer intimidar e calar o movimento.
E o Governador WD? Também cumpre sua parte na intimidação e tentativa de desmoralização do ambientalista. Utilizando-se do Estado e da prerrogativa de Governador mandou seus subordinados e bajuladores a montarem um Tribunal de Exceção na Secretária de Fazenda, onde o ambientalista é empregado através de Concurso Público. Nesse Tribunal de Exceção, através do Secretário Antonio Neto, WD determinou a criação de uma comissão, composta de “amigos seus” para promoverem uma execração do empregado, sem motivo e sem fundamento legal. Tudo para atender a caprichos calhordas. Não pode fazer alguma coisa como homem e usa do Estado para promover terrorismo, demonstrando uma atitude de quem é fraco. Assim fez o Hitler perseguindo o povo judeu, assim fez o Stálin na União Soviética, assim fez o regime militar mandando matar aqueles que eram contrários aos interesses dos que ocupavam o poder. Assim fez o ditador Pinochet no Chile. O modo de operar é sistemático. Por um lado a Bunge ameaça cobrando indenizações astronômicas, por outro, o Governador ameaça de tomar o emprego. Cuidado Governador esse mundo dá muitas voltas. Nem o Senhor nem a Bunge vão consegui me calar.
A Romaria da Terra e da Água em Uruçuí representa um fato importante para que a sociedade conheça realmente o que se passa no Cerrado do Piauí. É uma boa ocasião para que o Brasil venha ver de perto essa realidade. O paraíso prometido pela Bunge e o Governador WD virou um inferno, literalmente, começando pelo calor e a falta de chuva.
Vejam mais:
Olha ai pessoal este video foi produzido aqui no Piauí pela ONG a qual represento é só clicar no link e assistir ao documentário "Olhos Cerrados" ele tem apenas 14 minutos vale a pena! Vejam o que a BUNGe tá fazendo aqui.
http://videos.uol.com.br/video/olhos-cerrados-0402D4A173C6