Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

O filme “Tropa de Elite” é a apologia da tortura e do assassinato por parte do Estado. O filme tem lado. Ele faz a defesa das práticas dos policiais.

O filme é horrível. Não porque mostra a realidade, inclusive a crueldade do tráfico, mas porque defende a ação nefanda do Estado abertamente. Lembro da frase de Lula esses dias, ele também um neo convertido à barbárie: “não se trata bandidos com flores”. Políticos e autoridades do Rio de Janeiro tem repetido, por outras palavras, essa mesma tese esses dias. Voltamos ao que há de mais obscuro no ser humano, que é a tortura e o assassinato. Nem o talento de Wagner Moura (Nascimento) e a beleza de Fernanda Machado (Maria) podem nos iludir.

Raras vezes me senti tão horrorizado diante do macabro. Só quando tive a chance de visitar o Campo de Concentração de Dachau. Não pelas celas, não pela câmara de gás, mas pelo documentário que nos exibiram ao final, com cenas da época, com cadáveres empilhados até ao teto de um quarto depois que os Nazistas foram derrotados.

Foi no contexto dos campos de extermínio que nasceu a necessidade de se proclamar o código dos direitos humanos, para dizer que, até nas guerras, o ser humano tem uma dimensão irredutível e inviolável que jamais pode ser transgredida, embora o seja todos os dias. Quando se perde essa dimensão, tudo passa a ser válido. Tanto as ideologias, como as religiões, como o Estado – logo ele, que tem o monopólio legal da violência -, quando perdem esse respeito pelo irredutível do ser humano, cometem os piores horrores que a humanidade pode conhecer. Não foi por acaso que nesse pais surgiu o movimento “Tortura Nunca Mais” e ainda é exibido nos cinemas “Batismo de Sangue”. Nossa memória é viva demais para que um filme faça essa apologia e logo canais de TV – Globo e Record – se interessem em fazer uma mini série.

Cito apenas a cena de tortura do menino que entrega para a polícia seu chefe do tráfico. Esbofeteado, chutado, asfixiado com saco plástico, só entrega o chefe quando os policiais ameaçam enfiar um cabo de vassoura em seu ânus. Uma vez entregue o chefe, vem a cena final do cerco e execução do traficante. Nela, a conversão definitiva ao mundo da tortura e do assassinato do único policial que queria ser honesto.

Francamente, qual a diferença entre o tráfico e essa polícia? Na prática da barbárie ninguém é diferente. Porém, uma sociedade ética e com leis pressupõe que criminoso seja punido nas regras da lei e, quem sabe, sua mudança de conduta. Do Estado se espera a justiça e a defesa dos direitos humanos. Se não for assim, é a barbárie definitiva.

Roberto Malvezzi (Gogó)

 

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