Comissão Pastoral da Terra Nordeste II


Nos dias 19 e 20 de agosto de 2025, foi realizada a 20ª Assembleia Geral da Comissão Pastoral da Terra Regional Nordeste 2 (CPT NE 2). O encontro reuniu 38 agentes pastorais vindos(as) dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Realizada a cada três anos, a Assembleia teve como objetivos definir os compromissos prioritários da CPT NE2 para o próximo triênio, além de homologar e conduzir a nova Coordenação Regional e o Conselho Regional da Pastoral.

Texto e imagens: Setor de comunicação da CPT Nordeste 2


Além dos(as) agentes pastorais, a Assembleia contou com a participação de Jaime Amorim, da direção nacional do MST e membro da Via Campesina, que contribuiu com a análise de conjuntura; com Vivian Santana, que representou a CNBB Nordeste 2, e Cecília Andrade, da Coordenação Nacional da CPT.  Dom Limacêdo, bispo referencial da Comissão Regional Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB NE2, transmitiu uma mensagem de saudação, enfatizando o papel profético de uma Igreja que caminha ao lado dos empobrecidos da terra. 

Animados(as) pela mística da utopia, os(as) agentes pastorais da CPT se dedicaram, ao longo dos dois dias de Assembleia, a um diálogo profundo que resultou na definição e aprovação dos compromissos que orientarão a ação da Pastoral nos próximos três anos. A reflexão partiu da constatação dos principais desafios estruturais e conjunturais enfrentados pelo campesinato, como: tempos de grandes instabilidades que apontam para um colapso das formas de organização social como a  conhecemos, crise sistêmica do capitalismo, a persistente concentração de terras, o avanço do agronegócio, a ascensão da extrema direita e do fascismo, bem como as novas dinâmicas de acumulação de capital sobre a natureza e os territórios camponeses. 

Diante desse cenário, os(as) agentes pastorais reafirmaram que, em meio ao colapso, é preciso se alimentar de uma espiritualidade reinocêntrica e fortalecer a luta anticapitalista e as estratégias de organização e resistência camponesa. Como deliberação, foram definidos alguns compromissos centrais, entre eles: o apoio inegociável à luta das comunidades camponesas pela terra e pelo território, incluindo a adoção de estratégias de enfrentamento às novas dinâmicas de acumulação do capital; o fortalecimento da organização da juventude camponesa e das mulheres; a ampliação de processos formativos que respondam às transformações sociais em curso; e o aprofundamento do debate e do respeito às diversidades no campo, contemplando gênero, raça, geração, religião, orientação sexual, entre outras dimensões.

Para Maria Joseane, agente pastoral da CPT NE2, “a 20ª Assembleia foi um momento em que alimentamos o compromisso inegociável na defesa radical da dignidade humana e da justiça social inspirada no Evangelho. Também foi um espaço fundamental para avaliar e reorientar a atuação pastoral e política da CPT, debater os desafios reais que afetam os povos do campo e fortalecer a mística e a espiritualidade, nutridas pelo esperançar coletivo, diante da consciência de que a luta pela terra não é apenas pela terra, mas pela dignidade, pela justiça e pela vida.”

 

 


Confira a mensagem final da 20ª Assembleia Regional da CPT Nordeste 2:


Mensagem da 20ª Assembleia da CPT Nordeste 2

Reunidos e reunidas em Assembleia, no espaço do Santuário das Comunidades, em Caruaru, Pernambuco, nós, agentes desta pastoral, divulgamos uma mensagem de fé e de esperança, conscientes de que estamos vivendo um tempo de grandes incertezas e de graves ameaças à vida dos povos e da humanidade em geral.

De fato, no cenário mundial e em nosso país, aparecem extremismos ideológicos perigosos, profundas polarizações políticas, sentimentos de ódio e de racismo amplamente divulgados nas mídias sociais, sendo também concretizados nas relações humanas. Não ficamos intimidados e intimidadas com isso, e procuramos reagir com nossas convicções e com uma boa dose de utopia, olhando para os horizontes do nosso futuro.

Ficamos contagiados e contagiadas pela beleza da realização do V Congresso Nacional da CPT, que aconteceu no mês passado, em São Luís do Maranhão. O Congresso nos transmitiu muita mística e muito apreço por tantas experiências de organização e de resistência nas lutas pela vida, pela defesa dos territórios, pelas tradições culturais e religiosas de muitos grupos e comunidades e pela capacidade das mulheres trabalhadoras de gerar vida e esperança nas diferentes regiões do país.

Diante disso, na nossa Assembleia Regional, decidimos optar, de agora em diante, pela RADICALIDADE em nosso pensamento, em nossa linguagem e sobretudo em nossa prática pastoral.

Radicalidade evangélica - Discípulos e discípulas de Jesus de Nazaré, queremos nos inspirar na pedagogia missionária do Mestre. Ele congregou um grupo de agentes missionários e cuidou da formação daqueles homens e daquelas mulheres que decidiram segui-lo. Enviou-os(as), dois a dois, às ruas e às comunidades para despertar os sonolentos e para anunciar a urgência de construir o Reino de Deus, opondo-se aos poderes políticos e religiosos que oprimem e alienam. Jesus de Nazaré convidou, e nos convida hoje, para um novo “culto”, não oferecendo cerimônias, sacrifícios ou devoções vazias, mas oferecendo nossos corpos, nossas mentes, nossos corações e nosso tempo para, alimentados pela espiritualidade Reinocêntrica, contribuir no meio dos(as) empobrecidos com a construção de uma nova humanidade, solidária e fraterna, livre de toda a discriminação. 

Radicalidade política - Entendemos que chegou o tempo de tomarmos profundas decisões e contribuirmos para criar uma nova cultura de paz, de justiça social e de práticas políticas e administrativas honestas e transparentes. “Socialismo ou barbárie capitalista?”: não temos dúvidas sobre a nossa opção, e, pelas novas conjunturas e ameaças ambientais, optamos por uma verdadeira “política ecossocialista”. Escutando os clamores das comunidades do campo, não temos dúvida de que precisamos optar também por um decisivo “ecofeminismo”, valorizando a presença e o protagonismo das mulheres e sua relação com a terra e a produção. Em diálogo atento e fraterno entre companheiros e companheiras, observamos que a CPT é feminina. 

Radicalidade produtiva - Interessa-nos prevalentemente o uso ecológico da terra e a produção de alimentos sadios. Animaremos ainda mais os agricultores e as agricultoras a produzirem alimentos para a nossa nação, garantindo soberania alimentar, soberania nacional e apoio à troca de alimentos e produtos entre os povos de diversos países como medida concreta de solidariedade internacional. 

Radicalizaremos no aspecto da organização societal, ensinando e aprendendo, com convicção e beleza, a importância do trabalho coletivo e do uso e da posse da terra, das águas e das matas de modo comunitário, e não de modo individual e capitalista.

Pedimos aos amigos e às amigas das comunidades, dos movimentos, das pastorais sociais e das entidades de base que nos ajudem nesta difícil missão e para que possamos seguir fiéis e coerentes com nossos propósitos! 

 

 

Os e as agentes da Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2

Caruaru (PE), 20 de agosto de 2025

 

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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