Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Com profunda emoção e respeito, os povos de Nossa América e do mundo unimos nossas vozes para homenagear a vida e trajetória do Papa Francisco: o primeiro da América Latina e do Caribe, que das vilas da Argentina aos fóruns mundiais dos poderosos defendeu uma Igreja dos pobres e para os pobres. Sua partida deixa um vazio irreparável, mas também uma herança luminosa de esperança, coragem e compaixão.

Alba Movimientos

Papa Francisco, em Audiência com Movimentos populares, 2016. Foto: @Servizio Fotografico /L’Osservatore Romano

Da Página do MST

A América Latina ainda está nesse caminho lento, de luta, do sonho de San Martín e Bolívar pela unidade da região. Sempre foi vítima, e continuará sendo vítima até que não se liberte por completo dos imperialismos exploradores.” (Papa Francisco)

 

Afirmando suas raízes no Sul Global, nos recordou que “a realidade se compreende melhor a partir das periferias”, e com seu caminhar humilde entre os humildes e sua palavra firme colocou no centro da Igreja os pobres, os povos originários, os migrantes, as mulheres, a Mãe Terra e todos aqueles silenciados pelos poderes do dinheiro e da guerra. Caminhou junto aos movimentos populares, não como uma autoridade distante, mas como um irmão solidário. Fez suas as reivindicações históricas dos nossos povos na luta por terra, teto e trabalho como direitos básicos e inegociáveis.

Francisco compreendeu que a fé deveria se traduzir em ação concreta. Por isso, reuniu-se com lideranças de movimentos populares, sindicatos e organizações de base, reconhecendo seu papel na construção de uma sociedade mais justa. Hoje, como povo de fé, e diante dos desafios que a humanidade enfrenta, nos reconhecemos como os poetas sociais, com a capacidade de criar esperança e coragem onde só existe descarte e exclusão. Em suas próprias palavras, no Encontro Mundial com os Movimentos Populares, declarou: “poesia quer dizer criatividade, e vocês criam esperança; com suas mãos sabem forjar dignidade para cada um, para suas famílias e para toda a sociedade com terra, teto, trabalho, cuidado, comunidade.” Sabemos que, como povo pobre, não nos resignamos — nos organizamos, perseverando no trabalho comunitário cotidiano e lutando contra as estruturas de injustiça social.

Encontros entre o Papa Francisco e movimentos populares tiveram início em 2013. Créditos: Divulgação

A missão que Francisco nos confiou é a de nos posicionarmos contra o globalismo centrado no Deus dinheiro — a globalização da indiferença — que cria sociedades desumanas e injustas, que só busca enriquecer ainda mais os poderes econômicos enquanto empurra a sociedade para o individualismo e o isolamento. O mercado não resolve os problemas da humanidade: como afirmou o Papa na encíclica Fratelli Tutti, “ainda que mais uma vez queiram nos fazer acreditar nesse dogma de fé neoliberal.”

Com coerência e humildade, a partir de um lugar de referência global, buscou transformar por dentro as estruturas da sua própria instituição, para fortalecer a partir daí uma luta que é de todos: a dos povos que não se resignam e que continuam acreditando em um mundo mais justo e mais humano. Ele nos deixa a tarefa de reconstruir a esperança na transformação do mundo através de uma política que se torne cada vez mais sensível diante dos poderes econômicos transnacionais.

O legado de Francisco para #NossaAmérica: a luta pela justiça não é uma opção. Seu chamado para não se conformar com as injustiças e sua confiança na organização popular são os pilares para quem acredita que outro mundo é possível. Hoje, mais do que nunca, é necessário seguir seu exemplo: construir comunidade, defender os excluídos e manter viva a chama da esperança. Porque, como ele mesmo ensinou, a ação dos pobres não decide apenas o seu próprio futuro, mas talvez o de toda a humanidade.

 

 

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