Mais de 50 organizações sociais lançaram, nesta terça-feira (2), em Brasília (DF), a "Campanha contra a violência no campo: em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas". A iniciativa tem como objetivo tentar frear os diferentes ataques contra o segmento, um dos grupos sociais mais penalizados durante a gestão Bolsonaro.
Cristiane Sampaio
Mais de 50 organizações sociais lançaram, nesta terça-feira (2), em Brasília (DF), a "Campanha contra a violência no campo: em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas". A iniciativa tem como objetivo tentar frear os diferentes ataques contra o segmento, um dos grupos sociais mais penalizados durante a gestão Bolsonaro.
Até o momento, o ano de 2022 registrou 25 assassinatos decorrentes de conflitos no campo, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2021, foram notificados 36 homicídios desse tipo ao longo de todo o ano.
"A importância desta campanha é que nós iremos conseguir, creio eu, não apenas ficar na denúncia da violência, mas também encontrar saídas pra que essa violência possa diminuir", afirmou Dom José Ionilton, presidente da CPT, órgão da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
As entidades envolvidas na mobilização destacaram que a violência costuma ter destino certo, matando principalmente trabalhadores de grupos mais vulneráveis. Segundo a CPT, entre 2016 e 2022, foram assassinados 98 trabalhadores sem-terra, 58 indígenas, 28 posseiros, 25 quilombolas, 25 assentados, sete trabalhadores rurais, bem como outras 36 pessoas, entre pequenos proprietários, ribeirinhos, ambientalistas, etc. Houve, ao todo, 273 mortes violentas ligadas a conflitos no campo no período.
Em conversa com o Brasil de Fato, Alexandre Conceição, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), sublinhou que a violência não é uma novidade para esses grupos.
"É estrutural a violência do latifúndio, mas, neste momento histórico, nós estamos sofrendo a violência do Estado brasileiro, do Poder Executivo, do presidente da República. Então, precisamos denunciar esse presidente corrupto, violento, que não tem capacidade política pra gerir o Estado e por isso vem fazendo uma política para os grileiros de terra, o latifúndio e o agronegócio, destruindo a política pública da reforma agrária."
As estatísticas traduzem o problema que é sentido na pele por aqueles que têm o direito a uma vida tranquila negado. É o caso do indígena Simão Vilhava Guarani-Kaiowá, um dos sobreviventes do massacre de Caarapó, ocorrido no Mato Grosso do Sul em 2016. Na ocasião, fazendeiros patrocinaram uma ação violenta no local.
"Aqui em Brasília eles começam a violentar nosso direito na caneta, mas, lá na base, eles começam a violentar na bala", desabafa o indígena, ao acrescentar que os direitos dos povos tradicionais "nunca foram respeitados no Brasil".
A militante Sandra Maria, da Comissão Terra e Água e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), destacou que a campanha surge em um momento que pede "a união dos povos" para sensibilizar a sociedade sobre a importância de se combater o problema desde a sua origem.
"Para que essa violência pare, é preciso que se retome a política fundiária, a reforma agrária neste país. Só assim nós iremos viver com dignidade sem termos que ficar lutando dia a dia com empreendimentos que querem entrar nos nossos territórios sem reconhecer quem lá está", avalia.
Pressão nas instituições
As organizações irão atuar em frentes locais, nacionais e internacionais para denunciar o problema e cobrar soluções. Elas dizem esperar que a campanha tenha a capacidade de provocar as instituições competentes a adotarem ações de repressão à violência, geralmente patrocinada por grandes grupos econômicos que desencadeiam os conflitos.
"Isso vai gerar mais cobrança e a necessidade de mais esforços por parte das instituições do Estado, em especial do sistema de Justiça, pra que se elas se movimentem e deem respostas, porque o grande problema é a impunidade e a falta de respostas", disse o procurador Júlio Araújo, integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).
Edição: Thalita Pires