RIO DE JANEIRO - A proximidade do aniversário de 20 anos da morte de Chico Mendes, assassinado em 1988, está fazendo com que as idéias e propostas do líder seringueiro e ambientalista voltem a ser lembradas com mais força pelas organizações dos movimentos sociais no Brasil. Um dos resultados práticos mais importantes desse fenômeno é a rearticulação da Aliança dos Povos da Floresta, entidade idealizada por Chico Mendes em meados dos anos oitenta para unificar as principais bandeiras dos movimentos sociais da Amazônia em sua luta pelo desenvolvimento sustentável da região.
A volta da Aliança dos Povos da Floresta ao cenário da luta política nacional foi acertada em janeiro, após um período de negociações envolvendo três grandes redes: o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). A plataforma de atuação da entidade será definida no 2º Encontro Nacional dos Povos da Floresta, a ser realizado em Brasília entre os dias 18 e 23 de setembro. Esse encontro acontecerá 21 anos depois do primeiro, que foi organizado pelo próprio Chico Mendes na cidade de Xapuri, no Acre.
O presidente do CNS, Júlio Barbosa, comemora a reunificação da Aliança “após anos de distanciamento” e enumera as conquistas obtidas pelos povos da Floresta Amazônica nas duas décadas que separam os dois encontros nacionais: “Foram criadas 59 reservas extrativistas, houve a demarcação de terras indígenas, houve a criação da Câmara Técnica de Proteção ao Patrimônio dos Povos das Florestas e o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7). É muito importante a retomada da Aliança, cujos protagonistas - os índios e os seringueiros - têm participado ativamente das discussões sobre as políticas públicas para a região”, diz.
Para o secretário-geral do GTA, Adílson Vieira, a realização do segundo encontro em Brasília servirá para fortalecer a Aliança para além dos limites da Amazônia: “Precisamos discutir os problemas que ocorrem em outros biomas, como Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado, que são igualmente importantes, ricos em biodiversidade e com uma população expressiva vivendo nesses ecossistemas. Queremos discutir uma política florestal como um todo para o Brasil, definindo um modelo adequado para o desenvolvimento das comunidades e para a proteção das florestas”, diz.
O 2° Encontro terá apoio dos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do Desenvolvimento Agrário (MDA), e também dos governos do Acre, do Amapá, do Pará e do Amazonas. O evento, na avaliação do MMA, deverá atrair à capital federal mais de 10 mil representantes dos movimentos indígena, seringueiro e extrativista, além de membros de organizações não-governamentais e outros movimentos sociais. Os principais temas do encontro serão as mudanças climáticas, o desmatamento, os desdobramentos do PPG-7, a redução da pobreza dos povos que habitam a floresta e as iniciativas de exploração sustentável dos recursos florestais.
Marina anuncia 2º Encontro
A realização do 2° Encontro Nacional dos Povos da Floresta foi anunciada nesta terça-feira (19) pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante o seminário “O Papel dos Povos da Floresta no Desenvolvimento Socioambiental da Amazônia”, realizado no Hotel Mercure, em Brasília. A ministra, que ajudou Chico Mendes na organização do primeiro encontro, ressaltou a história da Aliança dos Povos da Floresta: “Temos de celebrar o esforço dessas comunidades historicamente marginalizadas, que foram capazes de ampliar uma aliança fundamental para recuperar a sua história e avançar socialmente”, disse.
Ao lado de representantes do GTA, da Coiab, do CNS, do Unicef e da Rede de ONGs da Mata Atlântica, entre outros, Marina enumerou o que considera como avanços obtidos pelos povos da floresta durante o governo Lula. A ministra citou “os 18 milhões de hectares em reservas extrativistas criadas nos últimos quatro anos” e prometeu que “nos próximos meses teremos mais oito milhões de hectares para este fim”. Ela também citou “os 10 milhões de hectares em terras indígenas homologadas na primeira gestão do governo Lula” e a redução do desmatamento de 50% na Amazônia e de 75% na Mata Atlântica.
Fonte: Agência Carta Maior
Por:Maurício Thuswohl