Além de enfrentar o desmonte da reforma agrária no país e garantir dignidade aos brasileiros que sofrem com a fome durante a pandemia, o "Fora, Bolsonaro" será o norte da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para o próximo período. É o que aponta a carta divulgada no dia 30 de janeiro pelo MST, redigida em encontro virtual da Coordenação Nacional, que ocorreu entre os dias 28 e 30 de janeiro, e contou com a participação de cerca de mil delegados de todo país.
No documento, foram elencadas algumas bandeiras centrais: a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e a garantia da vacinação para todos os brasileiros, a retomada do auxílio emergencial e a saída imediata de Bolsonaro da presidência.
A derrubada dos vetos presidenciais ao auxílio aos trabalhadores do campo e a preocupação com o retorno das aulas em plena escalada no número de óbitos pela covid-19 também são citadas.
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“Nos comprometemos em organizar o 'Fora Bolsonaro' em todos os municípios que temos acampamentos e assentamentos, dialogando com o povo e defendendo a vida, produzindo alimentos saudáveis para amenizar os efeitos da crise junto ao povo”, diz um trecho da carta.
O MST também presta solidariedade aos familiares das mais de 222 mil pessoas mortas pela covid-19 no país. Para o movimento, as mortes não são causadas apenas pelo vírus, mas são resultado direto das políticas neoliberais que colocam “o lucro acima da vida”.
“Apenas com o lucro, em 2020, das dez pessoas mais ricas no mundo, seria possível comprar vacina para toda população mundial”, aponta outro fragmento.
A situação de desalento vivida pelos brasileiros após o fim do auxílio emergencial é destacada pelo MST. Atualmente, o país tem 14,3 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e até o momento, o governo federal não apresentou qualquer proposta efetiva de transferência de renda à população para substituir o benefício.
“São 60 milhões de brasileiros e brasileiras abandonados pelo Estado, expostos à violência e à fome”, aponta outro trecho do documento.
Confira a carta na íntegra:
Ancoradas e ancorados pela mística rebelde e cultivada com a cultura camponesa, a Coordenação Nacional do MST, no marco dos nossos 37 anos, reuniu-se de forma remota no período de 28 a 30 de janeiro de 2021, contando com cerca de 1000 delegadas e delegados de todo país, com o objetivo de analisar a conjuntura nacional, internacional, nos aprofundar no estudo da questão agrária, projetar a Resistência Ativa e a construção permanente da Reforma Agrária Popular.
“Sonhamos para além de nós próprios” e dedicamos a nossa formulação e disposição de luta em solidariedade aos familiares das 222.666 pessoas mortas (oficialmente) na pandemia no Brasil. Entendemos, que essas mortes não são apenas causadas pelo vírus, mas é resultado da lógica de um mundo regido pelo neoliberalismo, onde o lucro está acima da vida. E, em meio a corpos em gritos de asfixia, cerca de 2 mil bilionários aumentaram suas fortunas para 12 trilhões de dólares. Apenas com o lucro, em 2020, das dez pessoas mais ricas no mundo, seria possível comprar vacina para toda população mundial.
Mas, para os povos, a crise do capitalismo tem se agravado. E tem cobrado em destruição da natureza, em empregos e renda, e sobretudo em vidas humanas! No Brasil, esse cenário se aprofunda sob o comando do governo Bolsonaro, que tem a pior gestão da pandemia no mundo. Chegamos a um cenário onde dos 100 milhões de brasileiros economicamente ativos, 14 milhões estão desempregados, 6 milhões desalentados e 40 milhões de pessoas vivem de “bicos”. São 60 milhões de brasileiros e brasileiras abandonados pelo Estado, expostos à violência e à fome, agravada pelo fim do auxílio emergencial e pela alta no preço dos alimentos. Volta Auxílio Emergencial!!
A vacinação não está garantida para todos. E isso não é só incompetência, é projeto de morte, de quem despreza a vida do povo brasileiro! A situação de Manaus e de outros estados, sem oxigênio, sem médicos e insumos, é um crime de Estado. Queremos respirar! Vacinação já!! Para todos e todas, gratuita e garantida pelo SUS! Portanto é urgente a revogação da Emenda Constitucional 95, que impôs cortes para a saúde pública e a educação.
Contudo, sabemos que não será garantido pelo projeto de morte, e o povo brasileiro tem se manifestado em resistência. Já são 66 pedidos de impeachment protocolados no Congresso. Exigimos que o presidente da Câmara respeite a vontade popular e coloque o Impeachment em votação. Jamais esqueceremos os nomes de todas as autoridades que silenciam ou colaboram com o assassino que está no poder. Estamos atentos e exigimos a restituição dos direitos políticos de Lula. E não recuaremos diante das ameaças de rompimento com a democracia.
O Fora Bolsonaro é urgente e necessário! Não podemos esperar! Chegou a vez do povo! 2021 trouxe um novo clima político protagonizado pelas forças populares e de esquerda, reunidas pela Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, demonstrando que é possível combinar cuidados sanitários com ações simbólicas. Daqui pra frente, não daremos trégua, voltaremos às ruas com nossos carros, bicicletas, carroças e muita indignação. Seguiremos em luta no mês de fevereiro e em março seremos tomados pelos aromas das lutas do 8 de março.
Portanto, convocamos toda a classe trabalhadora a construir às bandeiras de lutas:
1) A luta pela Vacinação Já! Volta Auxílio Emergencial! Fora Bolsonaro!
2) Exigimos a derrubada dos vetos presidenciais ao auxílio aos povos do campo!
3) Denunciarmos que a volta às aulas é crime. Aulas se recuperam, vidas não!
4) Defender o SUS e revogar a Emenda Constitucional 95!
Nesse sentido, nos comprometemos em organizar o Fora Bolsonaro em todos os municípios que temos acampamentos e assentamentos, dialogando com o povo e defendendo a vida, produzindo alimentos saudáveis para amenizar os efeitos da crise junto ao povo, como 4 milhões de quilos de alimentos doados em 2020.
Seguiremos inspirados no exemplo de Paulo Freire em seu centenário e seguiremos firmes com o seu legado, produzindo alimentos saudáveis, plantando árvores, fazendo formação política, organizando nossa Jornada de Formação e Trabalho de Base e contribuindo com as ações de solidariedade nas periferias urbanas junto com outros movimentos populares e parceiros da nossa luta.
Reafirmamos a nossa solidariedade com todos os povos em luta no mundo e que estão resistindo à políticas de neocolonialismo, do imperialismo e de aumento da exclusão e da migração forçada. Nos solidarizamos com os povos do campo, das águas e das florestas em luta! Nos somamos à luta contra o racismo, contra a LGBTfobia e contra o patriarcalismo em todo mundo! Prestamos nossa solidariedade aos camponeses e camponesas da Índia que estão em luta há diversas semanas.
Seguimos na Resistência Ativa, nos nossos territórios enfrentando as políticas de desmonte da reforma agrária e as tentativas de privatização das terras, contra a entrega de 25% de cada município para o capital estrangeiro, a regularização da grilagem e a apropriação dos bens naturais. Denunciamos o modelo do agronegócio e da mineração como grandes culpados da eclosão das pandemias, por seu modelo de destruição das florestas e da biodiversidade, e da produção animal em escala industrial. “Porque lutar para nós é fazer aquilo que o povo quer ver realizado”.
Seguiremos nos articulando no Brasil e em nível internacional com todas as forças sociais e populares que querem construir uma sociedade baseada na solidariedade, na igualdade e na justiça social. Uma sociedade socialista!
Vamos à luta com nossas bandeiras!
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!
Edição: Camila Maciel