Sou uma mulher negra. Moro num dos estados onde tem um número muito grande de negros e negras, e venho aqui falar deste dia: é dia de luta, hoje é dia de força, da nossa centralidade, de agradecimento aos nossos que aqui nos trouxeram. Mas, também, de reafirmar o nosso compromisso com a defesa da vida. Eu, quanto mulher preta, sabemos o quanto é desafiador a nossa vida. A nossa vida está sempre, infelizmente, por um fio, do nosso cotidiano, do nosso dia a dia, do que vivemos, das lutas que traçamos, das causas que defendemos: defendemos acima de tudo as nossas vidas e a vida dos nossos. E aí eu queria hoje, que é um dia de celebrar, mas também de denunciar e reafirmar a nossa ação junto a todos e todas, com o povo preto. E que nós consigamos nos manter firmes nessa luta.”
O testemunho é de Márcia Palhano, da Comissão Pastoral da Terra do Maranhão (CPT Maranhão) para este Dia Nacional da Consciência Negra vivido no Brasil. Ela acredita na resistência e no fortalecimento do povo através da comunhão, mas também da luta contínua em defesa dos direitos negados desde a colonização do país.
Unir as forças e dizer não à negação da vida
O bispo referencial das Pastorais Sociais do Maranhão e presidente da Comissão Sociotransformadora da CNBB, dom José Valdeci Santos Mendes, atua junto a grupos locais de quilombolas. Em preparação ao Sínodo Amazônico, por exemplo, incentivou a contribuírem para as reflexões da Igreja para uma ecologia integral. Nesta sexta-feira (20), falou ao Vatican News sobre a luta pela dignidade e a resistência do povo negro, “com a inspiração em Zumbi, uma das lideranças do Quilombo dos Palmares que, com muita ousadia, soube lutar no seu tempo" por uma sociedade diferente:
“Os quilombos são histórias vivas de resistência que nos ensina a resistir para continuar lutando contra o preconceito, contra o racismo e todo tipo de opressão e ameaça da vida e da dignidade da pessoa. Somos chamados e chamadas a ouvir a voz de Deus que está em sintonia: ‘eu vi a miséria do meu povo, ouvi o seu grito por causa dos opressores, por isso desci para libertá-lo’. A nossa atitude deve ser como a de Moisés: ouvir a voz de Deus e assumir a sua causa junto ao seu povo. Como povo negro, somos a maioria neste país, precisamos ocupar os nossos espaços em todas as instâncias de decisões no nosso imenso Brasil. Não queremos pedir e nem exigir, queremos decidir juntos e juntas o rumo da nossa nação. A nossa luta é para que esta sociedade seja de iguais, por isso precisamos, como negros e negras, estimular a nossa criatividade, assumir compromisso com a força e memória dos nossos ancestrais para construir uma sociedade nova. Diz um refrão de um canto afro: ‘vamos construir a história do sonho do povo com a força dos ancestrais rumo ao mundo novo’."