Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

 Funcionários da empresa Negócio Imobiliária S/A estão aplicando veneno na produção agrícola de famílias camponesas em comunidades localizadas no município de Jaqueira, na Zona da Mata Sul de Pernambuco

A Comissão Pastoral da Terra recebeu na manhã desta sexta-feira, 23/08, mais uma denúncia de violência provocada pela empresa Negócio Imobiliária S/A contra as famílias camponesas de comunidades rurais localizadas no município de Jaqueira, Zona da Mata Sul de Pernambuco.

Segundo a denúncia, há cerca de três dias, homens a serviço da empresa vêm aplicando o veneno Roundup na produção agrícola de família residente no Sítio Morcego, localizado entre as comunidades Caixa D’Água e Fervedouro. A mesma situação também está ocorrendo com sítios localizados nas comunidades de Barro branco, Várzea Velha e Laranjeiras. Além da produção agrícola, na qual se incluem várias experiências agroecológicas, os animais também estão sendo contaminados. 

Esta é a segunda denúncia de agressão contra as famílias que a CPT recebe em menos de uma semana. Na última segunda-feira (19/08/19), em uma das comunidades, denominada Barro Branco, funcionários da Negócio Imobiliária S/A destruíram as plantações do sítio do trabalhador rural Antonio Luis da Silva, além de parte da mata que protegia uma fonte d’água da família.  “O empresário quer tomar a terra de todos os/as agricultores/as. Então ele bota veneno, não respeita nada. Estão vindo com vigias, que são policiais aposentados, que ficam ameaçando as famílias, armados. Os/as agricultores/as estão com as mãos amarradas. Todos estão cientes, todas as autoridades, mas ninguém faz nada, parece que têm medo do empresário. Isso não pode acontecer”, denuncia um dos camponeses que vivem no local.

Entenda o conflito: Em 2017, a empresa tornou-se cessionária de arrendamento (possui um subarrendamento) de parte das terras pertencentes à falida Usina Frei Caneca. São cerca de cinco mil hectares localizados no município de Jaqueira que estão subarrendados para que a empresa desenvolva atividade pecuária. É nesta área em que vivem as 1.200 famílias distribuídas em cinco comunidades denominadas Caixa D’água, Barro Branco, Laranjeira, Fervedouro e Várzea Velha. Estas famílias vivem e produzem alimentos no local há mais de setenta anos, e desde 2013 reivindicam a regularização de suas posses junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Desde que a empresa chegou à área, os camponeses e camponesas destas comunidades relatam situações de intimidações, destruições e queimadas de lavouras, destruição de fontes d'água, ameaças e perseguições. Segundo informações locais, as violências são promovidas pelo corpo de funcionários da empresa, composto por policiais militares aposentados que rondam as comunidades portando pistolas e algemas. Mais de 30 Boletins de Ocorrência já foram feitos pelos agricultores e agricultoras na Delegacia de Jaqueira. Atualmente existem cerca de 30 ações possessórias que visam à expulsão de famílias das terras em que vivem. O caso já foi denunciado ao Ministério Público Estadual, ao Incra, ao  Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (Iterpe), à Prefeitura Municipal de Jaqueira, à Câmara de Vereadores e Vereadoras do município, à Diocese de Palmares e a Deputados e Deputadas Estaduais. O poder judiciário também foi alertado das atitudes truculentas e ilegais da empresa.

 Imagens: Divulgação

 

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