Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Cai sobre os ombros dos camponeses e das camponesas o sacrifício diário da produção de alimentos. A sociedade brasileira urbanizada, consumista de bens e serviço e industrial vira as costas para eles e elas e os/as tratam com indiferença. O agronegócio, as empresas capitalistas que atuam no campo e nas cidades e, sobretudo, o modelo de sociedade que estamos construindo estão matando o campesinato.

Plácido Junior*

Em 1960, a população brasileira era pouco mais de 72 milhões de pessoas. Dessas, 53,86% viviam em área rural e 46,14% viviam em área urbana. Os 38 milhões de pessoas que viviam no campo produziam alimentos para si e para alimentar os mais de 33 milhões que viviam nas cidades e que não tinham como produzir alimentos para viver. Existia muito mais gente produzindo alimentos do que as que só se alimentavam através da produção vinda da área rural.

Em 2017, o Brasil chegou ao patamar de 208 milhões de habitantes. Desse total, 28 milhões vivem em área rural e 180 milhões em área urbana. O que ocorre é que agora 28 milhões que vivem em área rural têm a obrigação de alimentar os 180 milhões que estão nas cidades. Agora uma pessoa que vive no campo tem que alimentar 6 pessoas que vivem na área urbana. Claro que temos que descontar uma parte dos que vivem no campo e que não produzem alimentos, que trabalham com especulação de terras e com a produção criminosa do agronegócio. É possível que essa parte nem viva no campo, tendo a área rural apenas para exploração.

O que ocorre é que temos bem menos gente no campo, com pouquíssima terra ou terra insuficiente, com a responsabilidade de produzir alimentos. No entanto, bem mais pessoas vivendo nas áreas urbanizadas demandam cada vez mais alimentos, inclusive exigindo que sejam alimentos saudáveis, sem veneno.

A sociedade brasileira assiste calada a não realização da Reforma Agrária em um País de tamanho continental! Assiste à tentativa de pôr fim às políticas de reconhecimento e demarcação das terras das comunidades quilombolas e dos povos indígenas sem se expressar! As comunidades que ocupam as terras tradicionalmente estão sendo expulsas e assassinadas, e o que estamos fazendo? Vivemos uma guerra civil não declarada no campo, onde só se morre de um lado e não estamos dando a devida atenção. Acordem, “se o campo não planta, a cidade não janta!”. O Governo Federal e muitos Governos estaduais estão fechando a maior fábrica de alimentos do mundo e nós não fazemos nada. Sim, o Brasil tem terras e gente vivendo no campo que pode acabar com a fome e garantir a soberania alimentar do Brasil.

Além do agronegócio monocultor, do latifúndio e de agentes do Estado, este modelo de sociedade urbanizada, querendo ser industrial, consumista, individualista cada vez mais exige do nosso campesinato a produção de mais alimentos. Produzir alimentos limpos com menos gente no campo e com menos terra? A inserção do campesinato neste modelo de sociedade  lhe impõe sacrifícios hercúleos. Vocês já viram algum camponês ou alguma camponesa de férias? Não! Mesmo assim eles e elas resistem, persistem e teimam em viver. E você está contribuindo com o sacrifício e a matança do campesinato? E depois, o que você vai comer?

 

* Plácido Júnior é geógrafo e agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra

 

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