Na manhã desse último domingo, 31/03, foi realizada, no município de Caetés, agreste setentrional de Pernambuco, a I° Romaria do povo da terra da região. Os romeiros e as romeiras se concentraram em frente ao monumento de Frei Damião, no centro da cidade, e seguiram com destino à comunidade quilombola Atoleiro, na zona rural de Caetés, percorrendo um total de 8 quilômetros.
Esta foi a primeira vez que a região do Agreste pernambucano recebeu uma Romaria da Terra organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo conjunto de comunidades camponesas da região por ela acompanhadas. A ação teve como objetivo ser um momento para que romeiros e romeiras, homens e mulheres de comunidades camponesas da região, se encontrassem para caminhar, celebrando a fé e fortalecendo o ânimo e a esperança de uma Terra Sem Males, de um mundo livre de injustiça.
A Romaria reuniu povos indígenas, comunidades quilombolas, posseiros e posseiras, camponeses sem-terra, representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura de Pernambuco (FETAPE).
A Caminhada - A madrugada que antecedeu à Romaria foi de muita chuva. As estradas na área rural ficaram intransitáveis, impossibilitando o deslocamento de algumas caravanas. Contudo, quem conseguiu chegar caminhou com alegria, agradecendo a chuva. O dia amanheceu com um vento gostoso, sol fraco e nuvens companheiras. O Padre Tiago Thorlby, da Comissão Pastoral da Terra, convidou todos e todas para iniciarem a peregrinação pisando firme como quem enxerga o invisível (Heb 11:27).
O percurso foi permeado pelo cheiro dos roçados, pelo perfume das flores, pelo canto dos pássaros e pelos cânticos religiosos. Os momentos de conversas e reflexões foram animados pelo espírito da Campanha da Fraternidade de 2019: "Livres pelo Direito e pela Justiça". A presença da juventude, que pintou e bordou lindas faixas, cartazes e banners, foi um destaque especial.
A chegada no Quilombo Atoleiro – A chegada no quilombo Atoleiro foi mais do que acolhedora: fogos, banda de pífano, roda de capoeira e apresentação do grupo de teatro da juventude da comunidade, com a peça “História do Quilombo Atoleiro”. Ao fim da Romaria, foi preparado um café da manhã, com a partilha de alimentos trazidos pelos romeiros e romeiras. Mal terminou a celebração final e a pergunta de sempre foi: "ano que vem tem?”
O quilombola Moreira, representante da comunidade que recepcionou a Romaria, ressaltou a importância da Romaria para fortalecer a luta das comunidades camponesas na busca por seus direitos. "A Romaria é uma forma de levar uma mensagem de esperança para as pessoas, porque as conquistas só acontecem com as lutas, com o povo que sonha em mudar a realidade. E para que haja essa mudança, precisamos lutar. Muitas vezes são chamados de loucos aqueles e aquelas que lutam por um mundo com mais qualidade, por igualdade de condições. Então estamos aqui nesta Romaria pra mostrar que temos direitos".
Por Marluce Melo e Tiago Thorlby
*Editado por setor de comunicação da CPT NE2