Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Na tarde do último dia 11 de julho, capangas da Usina Trapiche derrubaram pela quinta vez a casa dos remanescentes da Ilha de Constantino, município de Sirinhaém, Zona da Mata Sul de Pernambuco. A ação aconteceu em retaliação às denúncias feitas pelas moradoras da área à Terra de Direitos e à Comissão Pastoral da Terra. No último dia 28 de junho, a casa de Maria das Dores, uma das duas únicas moradoras da Ilha de Constantino, município de Sirinhaém, foi, pela quinta vez, demolida por trabalhadores da Usina Trapiche. De acordo com Maria de Nazareth, irmã de Maria das Dores, e também moradora da ilha, ambas vêm sofrendo cotidianamente com ameaças de pessoas ligadas à Usina Trapiche. “Um dia antes da casa ser demolida, Evânia Freire dos Santos, que é ligada aos donos da Usina, foi até a casa da minha mãe para falar que ia demolir a minha casa e a da minha irmã, que está na cidade porque aguarda para dar à luz”, explicou Nazareth. Únicas remanescentes das 53 famílias que moravam na região até 2002, Maria de Nazareth dos Santos e Maria das Dores dos Santos resistem às ameaças quase cotidianas dos capangas da Usina Trapiche. No dia seguinte a demolição da casa de Maria das Dores, as irmãs procuraram mais uma vez a Comissão Pastoral da Terra e a Terra de Direitos, organização civil para os direitos humanos, para oficializarem a segunda denúncia do ano contra as demolições. Na última terça-feira, dia 11, uma equipe das duas entidades, formada por padres, jornalistas e advogados, foi a Sirinhaém ver a situação em que se encontravam as famílias, ouvir as denúncias e prestar queixa na delegacia de polícia da cidade contra a destruição das casas, as ameaças e alguns roubos ocorridos durante ação de demolição. Segundo Maria das Dores, além de demolirem a casa, os capangas levaram as lonas e as madeiras, para que não houvesse possibilidade da casa ser reerguida. Mesmo depois do atentado do dia 28, Maria das Dores reergueu a casa da sua família, que não durou quinze dias. Em retaliação às denúncias feitas à CPT e a Terra de Direitos, no mesmo dia da visita das entidades ao local, a casa de Maria das Dores foi mais uma vez destruídas pelos capangas da Usina, que, ainda de acordo com o depoimento das duas irmãs, contam com a ajuda de policiais militares. Histórico do conflito - No ano de 2002, cerca de 53 famílias que moravam em uma região formada por 17 ilhas no Município de Sirinhaém, Zona da Mata Sul de Pernambuco, começaram a ser pressionadas pelos donos da Usina Trapiche a deixarem o local. As famílias, que sobreviviam das riquezas do mangue e da agricultura de subsistência e que moravam lá há aproximadamente 60 anos, foram obrigadas a deixar suas casas e suas terras para irem morar na zona urbana de Sirinhaém. Ao longo dos anos praticamente todas as famílias retiradas do local foram tristemente alocadas em barracos mal estruturados na periferia de Sirinhaém. Atualmente apenas as irmãs Maria Nazareth dos Santos e Maria das Dores dos Santos, que vêm sendo constantemente ameaçadas e já tiveram suas casas destruídas várias vezes, resistem na área. De acordo com as denúncias, Maria das Dores, que atualmente se encontra grávida de oito meses, já sofreu um aborto, no sexto mês de gravidez, após ter sua casa destruída por funcionários da Usina. A área em questão, como se trata de ilhas, são terras da Marinha Naval, ou seja, de propriedade da União Federal, logo, não podem ser alvo de especulação, tampouco podem pertencer à Usina Trapiche, que se alega arrendatária da terra. De acordo com a denúncia feita em abril deste ano pela Terra de Direitos, a Usina Trapiche vem fazendo, nas terras da União, o plantio de cana-de-açúcar não nativa e o reflorestamento da área com espécies que contrariam a legislação nacional prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

 

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